Profª. Dra. Fernanda Henrique Cupertino Alcântara

  Olás.  Eu demorei muito para reservar um tempo para escrever sobre essa série. Também demorei muito para ter interesse em assisti-la. A foto de uma mulher fumante e o trailer com atitudes "grosseiras" certamente foram os motivos principais. Sim, eu tenho completo pavor de cigarros e me pareceu uma aposta em um estereótipo, um clichê de filme do tipo norte-americano de massa, do qual eu queria manter distância. Num dia sem opção interessante resolvi ver do que se tratava aquele banner que eu julgava horrível. Fiquei em choque com o primeiro episódio considerando completamente antiético o comportamento daquela pretensa professora que era classificada como anárquica. Por não conseguir identificar a proposta, assisti mais um e acabei virando uma madrugada atormentada com essa série. Não muito diferente disso, resolvi escrever esta postagem após maratonar episódios dessa produção ontem e hoje. Rita é uma transgressora e, por incrível que possa parecer, não é fácil rotulá-la. A p

  Olás, Vamos falar um pouco mais sobre teoria sociológica e filmes? Então, que tal começarmos com uma série com uma proposta bem diferente? Pois é, "After life - vocês vão ter de me engolir" tem isso de sobra. Mas é necessário qualificar melhor esse "diferente". O título "After life", ok, de fato tem relação direta com a obra, mas o subtítulo parece nome de novela mexicana adaptada para o português brasileiro pelo Canal SBT. Sofrível. Não se engane, a coisa não passa por aí. Se estivermos interessados numa análise sobre costumes, instituições e o sentido que atribuímos ao nosso comportamento social, talvez essa seja uma oportunidade irrecusável, pois a série discute um fenômeno sobre o qual não gostamos de refletir: a morte. Mas não se trata de entender o que ocorre com quem morre e sim com quem fica e precisa encarar a ausência e ressignificar tudo à sua volta. O personagem é interessante: incomum para um personagem principal, não é o tipo "herói&qu

Olás, Aproveitando a segunda-feira para deixar mais um filme disponível, escolhi o 57 na mesma linha dos últimos que havia publicado aqui. Bora lá, então. Filme bom e bem feito! O problema é o mesmo, revisitado várias vezes de modo tosco ou bem elaborado em tantas outras obras. Mas, aqui, a comédia é leve, sutil, não escancarada. Em outras palavras, de muito bom gosto e reflexiva. Muitos pontos importantes e centrais são destravados na trama, demonstrando a complexidade das relações familiares, mas também como as instituições interferem, condicionam e confundem o papel desempenhado pelos pais e pelos filhos, piorando sensivelmente a comunicação, aumentando o ruído e, por vezes, desgastando as relações. Quem entra neste contexto? Trabalho e escola são os mais citados. Neste drama contemporâneo, com muita empatia e sensibilidade, revisitamos o tema em outros panos. Vale a pena assistir para pensar os conceitos e teorias sociológicas que dialogam diretamente com o tema. SINOPSE: Em O Guia

  Olás, Chegamos ao filme 56 e creio que seja a hora que chamarmos a atenção para o "Minha vida perfeita". Existem críticas para todo lado com relação ao roteiro do filme, ok, entendo e concordo com algumas. Todavia, o filme é muito interessante, principalmente, porque ele se apoia em dois elementos que julgo serem fundamentais: - não se conta uma história de modo linear (pois ela é complexa) e não se resume uma existência social a relações de causalidade ou recortes simples (pois ela transborda em diversidade de conexões); - a vida social não é marcada pela ordem, mas pela desordem e pelo conflito. São dois pressupostos marcantes e que, para a crítica, confundem e embrulham o estômago do espectador. Será? E, se realmente isso acontece, qual seria o motivo de o espectador se sentir assim? Tenho a sensação, por vezes, de que o repertório parece curto, pois vira e mexe voltamos a algumas(uns) teóricas(os) ou conceitos, mas eles realmente saltam à vista. Neste caso, Georg Simmel

Olás, Final de semana chegando e eu pensando em filmes. Então, essa é uma boa hora para escolher o 55º a ser publicado aqui no blog. Eu costumo gostar muito de cinema italiano e tem um que serve de inspiração para discutir os conceitos de relativismo , relacionismo  (para autoras e autores importantes como Martineau, Weber e Simmel) e também a característica perspectivacional  ou as configurações , se tomarmos por referência Norbert Elias. Mas, é uma comédia sobre a crença de que todos nós possuímos uma cara metade que está por aí a nossa espera. A produção não é complexa, entretanto, o tema é e a tentativa de demonstrá-lo a partir das interações amorosas em "configurações" distintas num mesmo enredo, mostra a contingência, a complexidade, as interações, os indivíduos que estão envoltos em redes, mas ao mesmo tempo mantêm características que são "individuais" e se destacam dos demais com relação a isso. Ufa! Frase longa. Particularmente, eu fico pensando no "mo

  Olás, Bora para o nosso 54º filme? Que tal o polêmico "A filha perdida", baseado na obra da famosa escritora contemporânea Elena Ferrante? Polêmico não, extremamente polêmico, por tocar em tabus relacionados à maternidade e ao papel da mulher no casamento e na criação dos filhos, modulando e humanizando a figura da personagem principal sem vitimizá-la ou mostrá-la frágil, refém das situações. Na verdade, logo no início do filme, a fragilidade é demonstrada associada a incapacidade de manutenção do trabalho, da vida, do relacionamento em razão das demandas de cuidado apresentadas pelas filhas, da sensação de incompletude sexual (pela ausência do marido ou pela presença insuficiente) e intelectual. Um drama carregado de complexidade e de uma personalidade que se apresenta ao expectador para além das expectativas sociais e do fadado conformismo e resiliência esperados das mulheres em seu papel social. Qual a sua sensação ao ver o filme? Quão grande foi o seu desconforto ou seu

Olás, A nossa 53º postagem sobre filme já estava rascunhada esperando uma brecha para ser publicada.  Faz já bastante tempo que vi o filme "Anne Frank, minha melhor amiga" , mas creio que ainda alguns elementos estão frescos na memória e gostaria de destacá-los aqui em contraponto com a teoria sociológica. O primeiro, óbvio, o nazismo, a perseguição e genocídio de judeus. Nada mais necessário hoje do que lembrarmos com afinco a tragédia que abalou a humanidade com o avanço da extrema direita, do nazismo e fascismo. Sem dúvida, é uma representação dos campos de concentração, da violência, do terror, da ausência de direitos e de princípios democráticos orientando a sociedade naquele momento histórico. Apesar de o nome do filme constar a referência a Anne Frank, a obra aborda a perspectiva de Hannah Goslar, que se sacrifica, quebra as regras de uma "segurança mínima" para tentar dar condições à amiga. Além do destaque para essa amizade e afetividade para além dos víncu

Olás, Bora para o nosso 52º filme e não é qualquer um. Essa é uma produção da Geórgia: o país Geórgia (não o estado norteamericano da Geórgia), que faz fronteira ao sul com a Turquia, Armênia e Azerbaijão.  Trata-se de um filme interessantíssimo, que aborda questões cotidianas, como relacionamento, casamento, família, filhos, trabalho, a condição social da mulher, o machismo, a invisibilidade do outro. Com um cenário simples, a roteirista e escritora demonstra a ausência do espaço para a singularidade, os desejos da mulher, tanto na arquitetura da casa, como na organização dos móveis e utensílios, ou, até mesmo, em seu próprio aniversário. O filme é tão denso ao falar sobre o cotidiano e mostra de um modo tão forte as opressões e o silenciamento das mulheres, sua ausência de liberdade substancial e de independência, consequentemente, de seus gozos e prazeres, que ele pode ser usado para debater temas muito amplos e fundamentais à Sociologia. Ainda assim, chamo a atenção para a teoria d

Olás, Recentemente, fiz algumas indicações de livros do professor Boaventura de Sousa Santos e suas possibilidades de diálogo e utilização nos programas de disciplinas de Sociologia do Direito. Pensando nisso e na teoria de Boaventura, resolvi verificar a minha lista de filmes, séries e documentários ainda pendentes de serem citados no blog e cheguei ao filme e à minissérie Xingu , nosso 51º indicado. Independentemente da discussão acerca da veracidade dos fatos históricos, creio que a obra em si é interessante para discutirmos alguns conceitos de Boaventura. O primeiro deles, é a ecologia dos saberes , essa convivência e reconhecimento de vários saberes sem relação de hierarquia. Lembro aqui também da própria noção de Epistemologias do Sul , além do mecanismo de tradução , bem como da Sociologia das Ausências e das Emergências . Não podemos também nos esquecer do conceito de artesania das práticas  que me parece estar muito bem retratado no filme quando demonstra como as ações dos i

Olás, Férias quase no final e eu gostaria de retomar as referências aos filmes como recursos didáticos que permitem exercícios de abstração para compreensão, entre outras, da teoria sociológica. Como nem sempre tenho condições de fazer as postagens que gostaria, acabo ficando com uma listinha longa de material que gostaria de produzir. A lista de filmes e livros certamente é a maior. :-) E nos últimos tempos (não sei se vocês estão com a mesma percepção) parece que recebemos uma avalanche de filmes que são bem interessantes para serem utilizados nesse sentido.  Vamos lá, então? Esse é, portanto, o 50º filme indicado. Eu não costumo ler a crítica sobre esse tipo de produção. Assisto, publico e depois me informo a respeito. A intenção é de não me deixar contaminar pela percepção desses profissionais da área, que, lógico, trazem contribuições valiosas sobre e devem ser considerados. Mas, deixo minha interpretação mais livres por estar a minha preocupação voltada para a relação com as Ciên

Olás, Hoje não seria um dia para a indicação de filmes, entretanto, não conseguirei deixar de me manifestar sobre o "Não olhe para cima". Muitos elogios na mídia, grupos de colegas, algumas críticas pesadas, comentários fazendo referência à situação brasileira atual... resolvi assistir. Esse é, portanto, o 49º filme indicado. Trata-se de um filme americano e, sim, não foge a essas características, mas faz uma crítica desse modelo e isso me parece claro em vários momentos do filme. Segundo, não traz um final mágico mítico ou carismático, mas sim coloca a ciência como a que tem consciência da sua limitação de convencimento e que, vendo não haver mais possibilidades se resigna. Na verdade, fica claro que isso não é o propósito da ciência, mas sim o do debate entre pares e que ela não está preparada para o encontro com o público. O filme termina com a família do personagem principal e dois outros cientistas falando sobre amenidades para tentar contornar o sofrimento, o medo, o de

Olás, Seguindo em nossa proposta, vou compartilhar mais uma página do meu livro  Os clássicos no cotidiano  no qual me dediquei a realizar as atividades voltadas para a conjugação entre o exercício de abstração e a teoria sociológica. É bom destacar que nem sempre usamos os chamados filmes "bons" para esse exercício, pois o importante não é a qualidade do filme em si, mas a conexão que conseguimos estabelecer com a teoria sociológica. Inobstante, das indicações feitas hoje, ao menos 04 são filmes de excelente qualidade, o que garante que você "não perderá tempo" ao assisti-los. Destaco aqui os três últimos em particular. Seguem agora, então, mais 05 filmes citados na página 57. São eles:  A dona da história ,   A vida é bela ,  A menina que roubava livros , O tempero da vida  e A garota no trem . Eles completam nossa lista em, respectivamente, 44ª, 45ª, 46ª, 47ª e 48ª  indicações de filmes para relacionar a conceitos e compreensões teóricas das autoras, dos autores

  Olás, Seguindo em nossa proposta, vou compartilhar mais uma página do meu livro  Os clássicos no cotidiano  no qual me dediquei a realizar as atividades voltadas para a conjugação entre o exercício de abstração e a teoria sociológica. Seguem agora, então, mais 03 filmes citados na página 56. São eles:  Chocolate , A inteligência artificial  e  Meninos não choram . Eles completam nossa lista em, respectivamente, 41ª, 42ª e 43ª  indicações de filmes para relacionar a conceitos e compreensões teóricas das autoras, dos autores e correntes teóricas estudados. SINOPSE do filme  Chocolate : Jovem mãe solteira chega a pequena cidade da França com sua filha de seis anos e abre uma loja de chocolates exatamente em frente à igreja local. A população não a vê com bons olhos, mas aos poucos começa a desfrutar de seus maravilhosos produtos. SINOPSE do filme  Inteligência Artificial : O primeiro menino-robô programado para amar, David, é adotado por um funcionário da Cybertronics e sua esposa. Apes

Olás, Hoje farei uma proposta um pouco diferente do que tenho realizado até o momento. Decidi compartilhar aqui as páginas do meu livro Os clássicos no cotidiano  em que me dediquei a realizar as atividades voltadas para a conjugação entre o exercício de abstração e a teoria sociológica. Neste intento, publicarei várias referências de filmes ao mesmo tempo, com maior referência a filmes antigos, muito mais facilmente disponibilizados em canais de acesso livre. Começaremos pelos 02 filmes citados na página 55:  O corpo  e  A ilha . Desse modo, temos, então, a 39ª e 40ª indicação de filmes para relacionar a conceitos e compreensões teóricas das autoras, dos autores e correntes teóricas estudados. SINOPSE do filme O corpo : Durante uma expedição, uma arqueologista (Olivia Williams) encontra um corpo crucificado, cujo exames apontam que ele é do primeiro século antes de Cristo. Ao saber do corpo, o Vaticano envia um padre (Antonio Banderas) que tem por missão investigar se o corpo encontra

  Olás, Vamos seguindo para nossa 38ª postagem sobre filmes e séries. Dessa vez, prefiro citar a série Anne with an e . E o foco que darei será mais voltado para o diálogo com o mês da consciência negra. Embora vários elementos sociais possam ser discutidos a partir desta série, creio que debater a respeito de como Sebastian é tratado na obra talvez seja o mais adequado agora. Pessoas provenientes de países não escravocratas que se assustam com o tratamento conferido aos negros em outros territórios, a segregação e o preconceito mesmo depois da abolição, a pobreza e a formação dos guetos são temas bastante interessantes na série, embora periféricos. Mas também o é a condição social da mulher, o homofobia, a misoginia, a relação com a propriedade, o trabalho, a diferença de classes, o acesso à educação, empatia, casamento, o papel destinado às mulheres, o acesso ao mercado de trabalho, estes sim elementos centrais na trama. SINOPSE: Munida de sua imaginação e de seu intelecto, a pequena