Profª. Dra. Fernanda Henrique Cupertino Alcântara

  Olás, Então, você gosta de charges? Depende? Que tipo de charge? Embora algumas mais, outras menos, as charges têm um grande potencial para a discussão de conteúdo de teoria sociológica, podendo ser amplamente utilizada em sala de aula, em provas ou outras atividades. Não é a toa que elas sempre aparecem em livros didáticos ou em provas de concurso. Mas por qual motivo elas são consideradas tão importantes? Provavelmente, por iniciarem um tema, teatralizarem uma cena com desfecho rápido, serem simples e de fácil compreensão. Lógico que não podemos nos esquecer dos direitos autorais e, pensando nisso, precisamos buscar na internet imagens de charges que estão sob domínio público. Se você é professor e ainda não utilizou esse recurso com turmas de segundo grau ou de graduação, sugiro que tente usá-las para debater os conceitos ou mesmo questões relativas aos clássicos da Teoria Sociológica.

Olás, "Como nossos pais" é um filme que, obviamente, aborda a questão geracional, mas de um ponto de vista do autoconhecimento.  E como essa filme pode ser utilizado como recurso didático de abstração para a discussão da teoria sociológica? A questão de gênero, a desigualdade, a socioanálise de Bourdieu, esse pessimismo e resignação frente à estrutura sabendo que o máximo possível é ter consciência da opressão sofrida, mas que provocar a mudança é a exceção que confirma a regra. Eu, particularmente, vejo "A dominação masculina", de Pierre Bourdieu, de forma muito clara neste filme. Mas várias outras temáticas podem ser sugeridas como a mudança institucional, a questão geracional, juventude, tradições, poder, uma sociologia do casamento, (como em Harriet Martineau e Marianne Weber) entre outros. SINOPSE: Rosa é uma mulher que quer ser perfeita em todas suas obrigações: como profissional, mãe, filha, esposa e  amante. Quanto mais tenta acertar, mais tem a sensação de

O filme relata o drama de uma adolescente que comete suicídio após sofrer represálias e críticas em sua escola e grupo de amigos quando um vídeo íntimo é compartilhado nas redes sociais.  Aborda tanto a ação da menina que não vê solução para o seu problema e comete suicídio, quanto como isso impacta na vida dos que contribuíram para o fato: sendo coniventes por meio do silêncio ou criticando-a abertamente. É, sem dúvida, um excelente filme para discutir a obra "Suicídio", de Émile Durkheim, e "Sobre o suicídio", de Karl Marx. SINOPSE: Assim como a maioria dos adolescentes, a jovem Tati (Tiffanny Dopke) ama compartilhar sua vida nas redes sociais e registrar todos os momentos. Porém, após perder o inseparável celular, ela se vê vítima da criminosa divulgação de seus registros íntimos no grupo de WhatsApp da turma do colégio, o que gera terríveis consequências. FICHA TÉCNICA: Nome: Ferrugem Nome original: Ferrugem Cor filmagem: colorida Origem: Brasil Ano de produção:

O filme relata o dia a dia de uma família de classe média baixa. O papel social do pai e da mãe são contrastados com o passado de questionamentos, vivências  e rebeldia durante a ditadura militar no Brasil. É na relação passada entre pai e filho, que o ator principal, agora pai, se questiona sobre os argumentos que seu filho usa contra ele. É no confronto entre a imagem que tem de si e do que viveu, com a perspectiva que o filho tem sobre ele, que o ator principal se vê entre um drama de estar reproduzindo os passos de um pai autoritário e insensível à vida social, exatamente como o que teve durante a sua juventude. Excelente filme para discutir a complexidade das relações sociais, a contingência, os papéis sociais, a cultura, a institucionalização, as organizações sociais, entre outros. De igual modo, é um filme interessante para se discutir Foucault, no sentido de que o passado nos instrui a compreender o presente e não tem fundamento sociológico em si mesmo, mas sim em como ele expl

E, hoje, vamos de séries! Uma grata surpresa foi assistir a Série, de nome um tanto "cafona" aos olhos de hoje, mas capaz de traduzir, senão o Rio de Janeiro na década de 1960, o mundo feminino em suas restrições e obstáculos. Aliás, o nome refere-se a uma expressão bastante machista, em que as mulheres são julgadas pelos seus "atributos físicos". Personagens nada heroicas, sempre tolhidas, cercadas pelo tradicionalismo, as regras perversas, a desigualdade de gênero, a violência doméstica, ... O que poderia parecer mais do mesmo, pode servir de pano de fundo não só para debater essas questões como também o racismo estrutural, o feminismo elitizado e o feminismo negro, as mulheres machistas, as instituições, de um modo geral, funcionando perfeitamente bem para os homens, mas limitando expressivamente a mulher e confinando-as ao ambiente doméstico. Também é interessante a discussão sobre o papel da mulher na esfera pública e como isso culmina com um feminicídio, ainda

O filme tem uma mistura de performance de documentário e quem está assistindo leva um susto desde o início pela trama diferente, com personagens que "se explicam ao público". Gostando ou não do resultado, o enredo do filme pode ser fartamente utilizado para discutir o capitalismo contemporâneo, os crimes de colarinho branco, a "lavagem de dinheiro", a corrupção e seus impactos na vida cotidiana. Por outro lado, fala das estruturas jurídicas nacionais, o comportamento social, a alienação e a tomada de consciência. Também mostra como somos reféns das estruturas sociais e pouco podemos com relação a elas, quem sabe aí uma boa desculpa para discutir Pierre Bourdieu. SINOPSE: Ramón Fonseca e Jürgen Mossack comandam um escritório de advocacia sediado na Cidade do Panamá, de onde gerenciam dezenas de empresas. Eles participam de todo tipo de fraude, sempre dispostos a faturar mais. Um dos casos envolve o pagamento da indenização a Ellen Martin, após seu marido Joe falecer

Olás,  Hoje falaremos sobre a importância das decisões judiciais e da jurisprudência no estudo de Sociologia do Direito. Não se trata de aprendizado para o exercício da advocacia ou outras carreiras jurídicas. Também não se refere ao entendimento formulado por determinados tribunais. A jurisprudência é útil à análise sociológica devido ao fato de materializar condições sociais, perspectivas de classe, gênero, etnia, concepções políticas e religiosas de modo muito transparente.  Ainda que os agentes se valham do discurso liberal, segundo o qual seriam, supostamente, neutros, basta observar com atenção um julgado sobre um dado tema que veremos, claramente, os valores sociais nos quais se fundamentam a postura do julgador e dos quais se utiliza para justificar o mundo e o modo de reprodução do mundo a partir do que considera devido ou indevido, aceitável ou inaceitável. Um exemplo clássico, mas existem vários outros que postarei na medida do possível, é o Caso Richarlyson, com a negatória

Olás,  Quando preparamos uma aula de Sociologia, não estamos distantes da realidade, alheios ao que se passa e reproduzindo de modo mecânico conceitos a serem "decorados" pelos alunos e reproduzidos em atividades avaliativas. Nós estamos mergulhados na realidade e interessados em compreendê-la. Por essa razão, uma notícia não é só uma notícia, um fato não é um fato isolado, eles reproduzem a estrutura social e demonstram como são realizadas ações de uma dada natureza, como são tratados o resultados dessas ações, demonstram claramente preconceitos e arquétipos para driblar o fato de que a alienação não cega a todos. Aliás, a principal ferramenta para tentar driblar a "descoberta" dessa realidade em sua condição estrutural é a ridicularização: do fato, do outro, do falante. Por essa razão, fenômenos como racismo, homofobia, violência doméstica, machismo, misoginia e tantos outros são constantemente ridicularizados com termos banais e acompanhados da atribuição de cara

Olás, que tal falarmos hoje sobre Pierre Bourdieu? Ou melhor, deixarmos que ele fale para nós. Existem várias entrevistas disponíveis em vídeo com o teórico Pierre Bourdieu. Indicarei aqui apenas algumas: "Entrevista com Pierre Bourdieu" , exibido em 2000 (01h10') (Maria Andrea Loyola UERJ) "A sociologia como esporte de combate"  (12'08") (Rádio Droit de citè) "Entrevista a Pierre Bourdieu": Parte 1  (15'00"); Parte 2  (15'01); Parte 3  (18'46") (CNDP, 1991) Podemos também listar algumas entrevistas transcritas: Juremir Machado da Silva, "Pierre Bourdieu: os mandamentos do intelectual". Porto Alegre: Revista FAMECOS , n 10, junho, 1999. Yvette Delsaut, "Sobre o espírito da pesquisa". São Paulo: Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 17, n. 1, junho, 2005. Luciano Trigo, "Entrevista com Pierre Bourdieu" Vale a pena, ainda, ouvir os comentadores de Bourdieu e documentári

No dia das mães, nada melhor do que falar sobre as mulheres, suas lutas, suas angústias e o tratamento desigual que recebem na sociedade contemporânea. Alguns filmes dedicaram-se a contar a árdua luta pela igualdade de direitos e, entre estes, o destaque para o direito ao voto. O filme As sufragistas evidencia também o massacre que a sociedade à época (e também hoje) promove contra as mães, usando seus filhos como instrumentos de poder para fazê-las se submeterem à lógica machista que engendra as relações cotidianas. Por isso, mulheres e homens precisam sempre questionar as afirmações que sustentam a respeito das mulheres de sua vida e do mundo, pois elas podem estar eivadas de preconceito e reproduzindo as desigualdades de tratamento. A instituição família , cumpre um papel estruturante neste sentido, classificando e desclassificando as mulheres nos seus mais diversos papéis. E o Direito, ao longo do tempo, foi usado diversas vezes para legitimar as desigualdades de gênero. Esse fil

O filme escolhido pode ser usado para a discussão de temas concernentes à Sociologia do Direito, por exemplo, justiça, administração de conflitos, dano ambiental, direito à propriedade, direito à saúde, entre outros.  Por outro lado, também é possível usá-lo para discutir direito comparado, tendo em vista as diferenças explicitadas quanto ao sistema jurídico brasileiro e o sistema jurídico norte americano. Todavia, entendo que um dos temas marcantes da obra cabe perfeitamente na introdução à Sociologia. Trata-se da perspectiva de gênero e das desigualdades quanto aos papéis e expectativas sociais decorrentes desta: mulher, mãe, esposa, ex-esposa, empregada, entre outras. Também vale a pena utilizar o filme para frisar os aspectos relacionados ao viés , bias e a todos os tipos de preconceito. SINOPSE: Erin (Julia Roberts) é a mãe de três filhos que trabalha num pequeno escritório de advocacia. Quando descobre que a água de uma cidade no deserto está sendo contaminada e espalhando

Como expliquei na postagem anterior, esse recurso não busca desenvolver capital cultural , embora seja um efeito direto, nem selecionar as "melhores" produções ou os campeões da crítica. Nossa terceira indicação de filmes é CASANOVA, ainda que seja a versão americana. O filme interessa aqui menos por Casanova e mais por Francesca Bruni, bastante representativa de uma época em que as mulheres não podiam falar, ocupar cargos e muito menos ser escritora. Retrata, portanto, o papel da mulher na sociedade do século XVIII. A escritora precisa valer-se de um personagem masculino para poder publicar suas ideias e, nesse intento, cria Bernardo Guardi. Trata-se de um recurso que pode ser usado discutir o papel da mulher na sociedade e na história das mais diversas ciências. Ao falarmos sobre as sociólogas clássicas, não podemos nos esquecer também da situação semelhante enfrentada pelas teóricas que alicerçaram outras ciências atualmente reconhecidas, mas elas próprias foram es

A indicação de filmes como recurso para trabalhar a teoria às vezes é confundida com gosto cultural ou qualidade da produção. Sinto decepcioná-los, mas não se trata disso. Alguns filmes, apesar de ruins, "cafonas" ou até mesmo antiquados trazem discussões que podem ser fartamente utilizadas para a contraposição à teoria, inclusive a sociológica. Portanto, não se trata da qualidade do filme em si, mas da sua utilidade como recurso de abstração. Nesse sentido, o segundo filme citado é ANTES QUE EU VÁ. Esse filme pode ser utilizado para discutir o suicídio e sua relação com a sociedade na qual o suicida vive. Portanto, pode ser utilizado para discutir a obra de Durkheim "O suicídio" ou a obra de Marx "Sobre o suicídio", além das teorias desses autores. Certamente parece um filme americano qualquer, com estereótipos por toda a parte, mas vale a discussão do desencadeamento dos atos suicidas e os tipos de suicídios. SINOPSE: Samantha Kingston (Zoey Deu

Olás,  Falarei hoje sobre o uso de entrevistas concedidas por autores que tradicionalmente estudamos. Sejam elas publicadas por escrito ou em vídeo, constituem num excelente instrumento de aprendizado e familiarização com a pessoa e obra que se busca conhecer por meio da Sociologia. O primeiro caso mencionado neste blog, não por acaso, será o de Michel Foucault. Ele era polêmico, muitas vezes cáustico e, atém mesmo, aparenta impaciência e agressividade quando assistimos algumas de suas entrevistas. Felizmente esses materiais são de livre acesso e encontram-se disponíveis. Citarei aqui apenas algumas possibilidades, as quais podem e devem ser utilizadas para introduzir a obra foucaultiana, permitindo esse contato direto com o autor. Cito abaixo alguns vídeos que mostram Foucault falando a respeito de sua teoria. “Debate Noam Chomsky e Michel Foucault – on human nature” (1h10) (Tv holandesa– 1971) “Michel Foucault entrevistado en Lovaina,1981”  (37’57”) “MichelFoucault por