Questões de Concurso - CESPE/CEBRASPE - Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco - Professor de Sociologia - 2022


Olás,


Estamos no final do semestre 3.2023, mas ainda tem muita água por rolar. Por isso mesmo, cabe mais um certame a ser considerado para fins de estudo. Vamos, então, para a prova 64.

 


A sociologia surgiu no final do século XIX, quando se tentava compreender a transição da sociedade tradicional para uma ordem social moderna. A respeito de aspectos relativos à sociologia como ciência, julgue os itens que se seguem. 

51 Simmel e Weber mantinham ligações com grêmios estudantis que debatiam questões políticas e sociais e, assim, eles contribuíram para que a sociologia fosse vista como uma ciência capaz de compreender os problemas sociais modernos e informar sobre possíveis soluções políticas. 

52 Na Europa do final do século XIX, o monopólio da explicação e(ou) compreensão do comportamento humano era objeto de disputa entre sociólogos e estudiosos de diferentes áreas de atuação intelectual, como a biologia e suas teorias raciais, a história, a psicologia e até mesmo a literatura. 

53 Na Alemanha e na França, criaram-se duas abordagens distintas para a sociologia: enquanto Durkheim buscava leis coercitivas e exteriores aos indivíduos, Weber buscava compreender os sentidos que os agentes atribuíam às próprias ações. 

54 Tanto Durkheim quanto Simmel se esforçaram para institucionalizar a sociologia em seus respectivos países e foram bem-sucedidos nisso, na medida em que fundaram cátedras, revistas e grupos de orientandos. 

55 Weber defendia que a sociologia contribui com metodologias objetivas de estudo dos problemas de política social e que caberia a ela, portanto, definir como o mundo deveria ser, a partir de sua análise racional dos problemas sociais.


(Verificar charge na prova)

André Dahmer. Quadrinhos dos Anos 10. Companhia das Letras. 2016. 

O cartunista André Dahmer é conhecido pelo uso da ironia em seus trabalhos, voltados a uma crítica à homofobia, à xenofobia e a outras formas de discriminação. Com base na tirinha precedente, de André Dahmer, e na teoria sociológica clássica, julgue os seguintes itens. 

56 Segundo a perspectiva de Simmel, os indivíduos buscam distinguir-se uns dos outros a partir de suas excentricidades, expressas, inclusive, nas roupas. 

57 Infere-se da tirinha uma oposição entre sociedade moderna, baseada na igualdade entre os cidadãos, e sociedade tradicional, baseada em estamentos. 

58 O xingamento “cearense burro”, na tirinha, evidencia uma desigualdade de classe entre os personagens. 

59 Na tirinha, a separação entre mundo objetivo e mundo subjetivo pode ser depreendida da representação da aparência exterior do personagem que fala no segundo quadrinho em comparação com sua subjetividade interior, ilustrada no terceiro quadrinho. 

60 A estratificação social, tal qual pensada por Marx, está explícita na tirinha, na medida em que cada personagem possui uma classe e um grupo de estamento específicos.


Vemos como o “desencanto” com a modernidade é uma dimensão constitutiva das interpretações clássicas da sociologia, o que assinala a visão crítica dos autores e da própria disciplina, além de abrir a possibilidade de interpretação de suas teorias para além da modernidade. A. Botelho. Essencial sociologia. São Paulo: Penguin Classics, 2013, p. 28 (com adaptações). Considerando o assunto do texto apresentado e aspectos a ele relacionados, julgue os itens a seguir. 

61 Marx, ao estabelecer uma relação distanciada com seu objeto de estudo, percebeu limitações ao desenvolvimento humano pela alienação enraizada no modo de produção capitalista. 

62 Weber reconheceu, no avanço da racionalização e da burocratização, a possibilidade de expansão dos valores liberais. 

63 Para Marx, a organização da produção, em sua essência, manteve-se igual na passagem do capitalismo feudal para o capitalismo industrial, dado que a riqueza continuou a ser produzida pelas classes baixas e apropriada pelas classes altas. 

64 Durkheim, no diagnóstico que fazia de seu tempo, notava o risco da anomia social em uma possível ascensão desenfreada do individualismo. 65 Weber propunha uma análise de interseccionalidades ao articular classe e grupos de status para descrever a estrutura social. 


(Verificar tela)

Lula Cardoso Ayres. Trabalhadores no Eito, 1943, óleo sobre eucatex, 102 cm x 160,5 cm. Col. FUNDAJ

Tendo como referência a tela apresentada, intitulada Trabalhadores no eito, de Lula Cardoso Ayres, e os aspectos sociológicos que ela suscita, julgue os seguintes itens. 

66 A estrutura social baseada em grupos de status (senhores e escravos), engendrada durante o período escravocrata, deixou de existir no Brasil, uma vez que a sociedade brasileira não mais se organiza por grupos de status, mas, sim, por classes sociais. 

67 A condição de trabalhador do eito, na economia do açúcar, é uma condição de classe, em termos marxistas, e uma condição de status, em termos weberianos. 

68 Os trabalhadores rurais pernambucanos foram tão constrangidos pelas condições precárias de existência que deixaram de ser criativos em termos culturais e de estilos de vida. 

69 O título da tela e a criança no primeiro plano simbolizam uma associação entre as instituições sociais do trabalho e da família. 70 A elite açucareira do século XIX pode ser considerada uma casta, nos termos de Weber.


A violência nas relações de intimidade permanece, na atualidade, como uma relevante fonte de exclusão social. Com uma crescente visibilidade na esfera pública, traduzida num claro aumento das denúncias, a violência nas relações íntimas tem sido objeto de diversas políticas dirigidas à sua prevenção e criminalização e ao apoio às vítimas. Os diversos estudos sobre a violência nas relações de intimidade evidenciam, claramente, que esta é perpetrada, na sua grande maioria, por homens sobre mulheres. Segundo a teoria da interseccionalidade, as mulheres [imigrantes] vítimas de violência experienciam, simultaneamente, diferentes formas de opressão e de controle social, uma vez que estão imersas em contextos sociais onde se cruzam diferentes sistemas de poder (como a raça, a etnia, a classe social, o gênero e a orientação sexual). Na verdade, as situações de violência nas relações de intimidade podem ser agravadas por fatores como o estatuto legal, a classe social, a cultura ou a etnicidade, entre outros. Para além disso, a pouca familiaridade com a língua, o difícil acesso a empregos adequados, o conhecimento insuficiente dos seus direitos, o isolamento da comunidade imigrante e o distanciamento das redes sociais e familiares de apoio também contribuem para reduzir a capacidade de as mulheres imigrantes se protegerem contra situações de violência e abuso. Madalena Duarte e Ana Oliveira. Mulheres nas margens: a violência doméstica e as mulheres imigrantes. In: Sociologia. Porto, 23, jun./2012, p. 223-224 (com adaptações)

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue os itens a seguir. 

71 Na sociologia das relações de gênero, está estabelecido que é necessário investigar, separadamente, cada fator que contribui para a violência. 

72 As relações de intimidade humana, apesar de estarem, em tese, estruturadas a partir dos afetos, não constituem fator impeditivo para o exercício da violência. 

73 O papel do Estado no que se refere à compreensão sociológica dos efeitos de migrações internacionais, notadamente as que se caracterizam pelo refúgio, é de caráter marginal. 

74 A reflexão sobre interseccionalidade é característica das análises sociológicas recentes. Antes da formulação desse conceito, estavam ausentes as perspectivas que levavam em consideração a combinação de vários elementos no intuito de compreender as formas de desigualdade. 

75 A condição de migrante está frequentemente acompanhada de aspectos que contribuem para o aumento das desigualdades.


Como se sabe, os dispositivos elaborados para tratar da violência articulam diferenças de raça, de classe e de gênero e, assim, facilitam, naturalizando, as acusações que designam os homens negros como propícios ao crime e às incivilidades, em contraste com as mulheres, posicionadas, nesse jogo relacional, como aquelas que melhor corporificam os valores morais. [...] É como se houvesse um consenso difuso e amplamente partilhado sobre a superioridade moral das mulheres em relação à violência e ao crime, que abrange tanto pontos de vista religiosos como seculares; e, de certa forma, o que relatamos aponta para os homens como o alvo dos trabalhos pastorais e para as mulheres como aquelas que teriam uma pouco questionada e (muito acionada) aderência aos valores morais seculares e cristãos. Patrícia Birman. Narrativas seculares e religiosas sobre a violência: as fronteiras do humano no governo dos pobres. In: Sociologia e Antropologia. 9(1), jan.-abr./2019, p. 122 (com adaptações). A partir do texto precedente, julgue os próximos itens. 

76 A observação do jogo relacional como parte do modo como se estrutura a violência abrange, em uma perspectiva sociológica, a consideração dos diferentes sujeitos que constituem essa interação. 

77 As práticas de fé e de culto, tanto historicamente quanto no contexto atual, tendem a equivaler às contribuições de gênero. 

78 Na relação entre ética protestante e espírito do capitalismo, elaborada por Max Weber, em sua obra clássica, pressupõe-se a prática religiosa como elemento fundador do capitalismo. 

79 A naturalização de atos violentos pode ser interpretada, à luz da teoria sociológica de Émile Durkheim, como um fato social de caráter patológico e, portanto, sua superação depende da normalização da sociedade. 

80 O fato de se atribuir um lugar de maior civilidade às mulheres contribui para que elas se tornem, frequentemente, alvos de outros tipos de violência. 

81 Conforme se depreende do debate sociológico acerca da violência no Brasil, a maior incidência de violência policial sobre homens negros pode ser explicada pela maneira como o racismo permeia as relações sociais.


Recentemente, a “nova esquerda” dos novos movimentos sociais, dos movimentos das minorias sobretudo, passou a tematizar o “direito à diferença”. Com base na convicção da “legitimidade das diferenças”, passou-se a propor como novos imperativos categóricos para a esquerda o “respeito às diferenças”, a “defesa das identidades coletivas”, a “preservação das particularidades culturais”, o “respeito das mentalidades específicas”, a “irredutibilidade das experiências de gênero” e assim por diante. Ora muito bem, estas novas divisas de esquerda, que podem ser resumidas na reivindicação do “direito à diferença”, trazem em si mesmas um ardil, que a meu ver provém justamente desta sua ambiguidade, uma debilidade hereditária: o fato de ter sido o amor da diferença alimentado no campo (ultra)conservador duzentos anos a fio, e só mui recentemente incorporado em algumas faixas ou zonas do campo de esquerda, este fato torna o clamor pelo “direito à diferença” dificilmente distinguível da defesa das diferenças própria do estoque de certezas do senso comum conservador. Antônio Flávio Pierucci. Ciladas da diferença. In: Tempo Social. São Paulo, 2 (2), p. 15-16, 1990 (com adaptações). A partir das reflexões  apresentadas no texto precedente, julgue os próximos itens. 

82 A ambiguidade existente na defesa de certos direitos é uma marca que, constatada no texto apresentado, que data de 1990, continua presente na atualidade. 

83 A “reivindicação do ‘direito à diferença’”, mencionada no texto e presente nos embates sociológicos atuais, está centrada, em especial, na maneira como os novos e os velhos movimentos sociais estão dando continuidade a uma disputa emanada da posição conservadora. 

84 Dado o amplo arcabouço de perspectivas em que se discute, hoje, a diversidade cultural e étnica, percebe-se que a defesa da diferença constitui agenda incontroversamente assumida pelo espectro político associado à esquerda e rechaçada pelo espectro conservador. 

85 A preocupação com a diferença, presente na agenda contemporânea, está associada à defesa do indivíduo e, assim, remete às bases conservadoras em termos políticos.


No caso brasileiro, a dicotomia entre raça e classe se revigora diante das mudanças causadas pelas ações afirmativas, cujo debate levou estudiosos brasileiros de diferentes áreas e temas a fazerem considerações acerca da dinâmica de tal dicotomia. Márcia Lima. “Raça” e pobreza em contextos metropolitanos. In: Tempo Social, 24(2), nov./2012, p. 247 (com adaptações). Considerando o tema tratado no texto precedente e os debates que lhe são pertinentes, julgue os itens a seguir. 

86 A despeito da desconfiança de parte da sociedade em relação aos resultados da promulgação da Lei n.º 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, atualmente sua relevância é reconhecida tanto no que se refere ao quantitativo de acesso à educação superior quanto no que diz respeito ao debate qualitativo do enfoque das áreas de conhecimento. 

87 Em uma dicotomia como a citada no texto, as variáveis devem ser compreendidas de modo separado, ou seja, cada uma delas deve ser considerada isoladamente. 

88 A inserção da população negra em espaços outrora quase exclusivamente ocupados por pessoas brancas, como as universidades, é um poderoso mecanismo de combate ao preconceito e à discriminação, ainda que esteja acompanhado de adversidades. 

89 O resultado das políticas de ação afirmativa em relação à redução das desigualdades sociais é observado ao longo do tempo, como um efeito cascata, consequência do papel da educação na inserção do indivíduo no mercado de trabalho. 

90 Ainda que não constituam uma instância de enfrentamento da discriminação racial, as políticas de ação afirmativa representam um poderoso instrumento de luta contra as desigualdades sociais, pois contribuem para o aumento das oportunidades de acesso da população negra à educação formal. 


Julgue os próximos itens, em relação à metodologia do ensino da sociologia para o ensino médio. 

102 O papel da sociologia é crucial para a formação da cidadania, fundamentando-se no respeito à pluralidade de opiniões, na prática de autonomia efetiva pelo sujeito moral e na prática efetiva da liberdade. 

103 O conhecimento e o reconhecimento de direitos e deveres é uma das faces das práticas pedagógicas que envolvem o ensino da sociologia. 

104 Conforme a Base Nacional Comum Curricular (2018), o conhecimento técnico e o conhecimento sociológico são excludentes, devendo-se priorizar o primeiro em detrimento do pensamento filosófico e social. 

105 Ao desobrigar o ensino da sociologia no ensino médio, a Base Nacional Comum Curricular (2018) contribui para tornar o ensino cada vez mais tecnicista, privilegiando uma educação reprodutora e pouco interdisciplinar.

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