Questões de Concurso: IFMT 2022 Professor de Sociologia

 

Olás,


Agora sim, para fechar o ano de 2022, que foi repleto de muito esforço e trabalho, para agora curtirmos um pouco de fato o recesso que já está quase no fim, deixo com vocês a prova de número 60.


21. Com base no livro Os clássicos da política, vol. 1, organizado por Francisco C. Weffort, marque a alternativa CORRETA sobre a passagem do estado de natureza para o estado civil e o contrato social. 
(A) Em Locke, o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os direitos que possuíam originalmente no estado de natureza. 
(B) Com Hegel, a teoria contratualista alcançou sua maior expressão formal, ao fazer do indivíduo o alfa e o ômega da vida social e do Estado a totalidade orgânica de um povo, não um agregado, um mecanismo, um somatório de vontades arbitrárias e inessenciais. 
(C) Para Hobbes, o estado de natureza é uma condição de guerra, porque cada um se imagina (com razão ou sem), poderoso, perseguido, traído. Mas basta o fundamento jurídico, uma lei de natureza (fazer aos outros o que queremos que nos façam), para forçar os homens ao respeito e criar a condição para a existência da sociedade. 
(D) Conforme Rousseau, o contrato social é um pacto ilegítimo, através do qual os homens perderam sua liberdade natural e ganharam, em troca, a liberdade civil. 
(E) Montesquieu define o conceito de contrato social como: “relações necessárias que derivam da natureza das coisas”, e a passagem do estado de natureza à sociedade civil é explicada por meio do determinismo natural e inevitável. 


22. Analise o texto abaixo. Todas as organizações têm perfis políticos, mas apenas no caso de Estados é que envolve a consolidação de um poder militar em associação ao controle dos meios de violência dentro de uma extensão territorial. Um Estado pode ser definido como uma organização política cujo domínio é territorialmente organizado e capaz de acionar os meios de violência para sustentar esse domínio. Anthony Giddens. O Estado-nação e a violência. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 2008, p.45. Com relação à abordagem teórica do Estado elaborada por Giddens no livro O Estado-nação e a violência, marque a alternativa CORRETA. 

(A) Os Estados se formaram em conexão com mudanças específicas na distribuição de poder entre governantes e governados. 

(B) Define-se o Estado estritamente em termos de controle dos meios de violência. 

(C) O principal aspecto do Estado é o papel de órgão de comunicação com o resto da sociedade. 

(D) Estado é a expressão do domínio de classe e exerce o domínio territorial por meio da expropriação e da violência. 

(E) Todos os Estados incluem o monitoramento reflexivo dos aspectos da reprodução dos sistemas sociais subordinados ao seu domínio.


23. No livro Sobre o Estado, o sociólogo Pierre Bourdieu se refere à gênese do Estado: […] um processo durante o qual se opera toda uma série de concentrações de diferentes formas de recursos: concentração dos recursos informacionais (a estatística através das pesquisas de opinião, os relatórios), de capital linguístico (oficialização de um dos falares que se constitui como língua dominante, de sorte que todas as outras línguas são formas desaprovadas dela, desviadas ou inferiores). Pierre Bourdieu. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p.146. 

Conforme Bourdieu, marque a alternativa correta que apresenta o processo que é inseparável da gênese do Estado. 

(A) Processo de civilização. 

(B) Constituição do simbólico. 

(C) Monopólio do universal. 

(D) Formação das nações. 

(E) Dominação da violência.


24. Sobre os Estados tradicionais, considere a análise de Anthony Giddens no livro O Estado-nação e a violência e julgue as sentenças como VERDADEIRA ou FALSA. 

( ) Os Estados Tradicionais dependem da geração de recursos políticos e materiais, tornada possível pela divisão das relações entre cidade e campo. 

( ) A “comunidade política” nos Estados tradicionais está limitada à participação ativa de poucos, cujas políticas e conflitos internos determinam principalmente a distribuição dos recursos políticos. A “política”, por sua vez, tem uma definição muito mais ampla nessas sociedades. 

( ) O fato de tais Estados possuírem limites, incluindo limites de ocupação secundários, em vez de fronteiras, é indicativo do relativo nível de fragilidade da integração do sistema. É importante enfatizar como os Estados tradicionais são semelhantes, como “sistemas sociais”, dos Estados modernos. 

( ) É equivocado descrever as formas de domínio encontradas em Estados não-modernos como “governo”, se “governo” significa uma preocupação do Estado com a administração regularizada de todo o território reivindicado como seu. Estados tradicionais não “governam” nesse sentido.

( ) Os governantes dos Estados tradicionais eram sempre, em um certo sentido, “soberanos”: eles eram reconhecidos por serem a suprema autoridade na ordem política. Como os monarcas absolutistas, eles reivindicavam legitimidade pela referência aos símbolos sagrados. 

Marque a alternativa que apresenta a sequência CORRETA das sentenças acima: 

(A) V, V, F, F, V.             (B) F, F, V, F, V.             (C) F, V, F, V, F.             

(D) V, F, V, V, F.             (E) V, F, F, V, V.


25. Conforme Randall Collins, no livro Quatro tradições sociológicas, nas décadas de 1970-1980, houve a difusão de um movimento denominado de “escolha racional” ou “ação racional”. Um dos seus segmentos, voltado para o estudo das decisões políticas, ficou conhecido como “teoria da escolha pública”. Neste contexto, surgiram paradoxos do comportamento racional, um deles conhecido como “problema do carona”, formulado por Olson em 1965. O paradoxo de Olson é o seguinte: “O indivíduo racional não irá ajudar a arcar com os custos desses bens públicos, mas, não obstante, isso não o impedirá de usufruir deles.” Considere bens públicos como redução da criminalidade, ou ter o lixo recolhido das ruas, por exemplo. Conforme Collins, marque a alternativa VERDADEIRA sobre como Olson resolve o problema do carona. 

(A) Os indivíduos contribuirão para a aquisição de bens públicos se lhes forem apresentados os ganhos coletivos da aquisição. 

(B) Os bens públicos devem ser garantidos a partir de uma decisão arbitrária ou até mesmo coercitiva, como recolhimento de impostos. 

(C) O problema do carona é um falso paradoxo: a decisão de não ajudar a arcar com os custos dos bens públicos não é uma escolha racional. 

(D) As informações estatísticas são fundamentais para a escolha racional, pois os indivíduos tendem a abandonar suas antigas concepções diante de novas informações. 

(E) Na realidade, as pessoas são altruístas e colocam os interesses coletivos acima de seus interesses individuais.


26. Em relação às diversas abordagens teóricas dos movimentos migratórios nacionais e internacionais no Brasil nos séculos XX e XXI, assinale a opção INCORRETA. 

(A) Até a década de 1980, as interpretações dos movimentos migratórios estavam fundamentadas nos aspectos econômicos. 

(B) O conceito de transnacionalismo envolve as múltiplas relações sociais que o migrante estabelece tanto na sociedade de origem, como de destino. 

(C) O conceito de rotatividade migratória pressupõe as migrações internas como um fato social total, vincula-se à expansão do capitalismo e à rotatividade da mão de obra, sendo imprescindível relacionar processos locais aos âmbitos regional e global. 

(D) Nos anos 1990, as teorias explicativas das migrações internas no Brasil relacionavam a intensificação dos deslocamentos de longa distância ao enfraquecimento da indústria e à expansão da fronteira agrícola. 

(E) O contexto da migração internacional no Brasil do século XXI é marcado pela entrada de diversos imigrantes, como asiáticos, coreanos, haitianos, latino-americanos, franceses, espanhóis e portugueses.


27. Tendo como base a abordagem sociológica da educação elaborada por Émile Durkheim, julgue cada sentença como VERDADEIRA ou FALSA. 

( ) Em cada um de nós, existem dois seres que, para serem inseparáveis que não por abstração, não deixam de ser distintos. Um é constituído por todos os estados mentais que apenas se referem a nós próprios e aos acontecimentos relacionados com a nossa vida pessoal. A constituição desse ser em cada um de nós:, eis a finalidade da educação. 

( ) Uma vez que a criança deve ser preparada com vistas à função que será chamada a preencher, a educação, a partir de uma certa idade, não pode continuar a ser a mesma para todos os sujeitos a que é aplicada. 

( ) Cada sociedade tem para si um certo ideal do homem, daquilo que ele deve ser, tanto do ponto de vista intelectual, como físico e moral. Esse ideal é, em certa medida, o mesmo para todos os cidadãos, e, a partir de um certo ponto, ele se diferencia. É esse ideal, simultaneamente uno e diverso, que constitui o papel do Estado. 

( ) A partir do momento em que a educação é uma função essencialmente social, o Estado não pode desinteressar-se dela. Pelo contrário, tudo quanto seja educação deve estar, de algum modo, submetido à sua ação. 

( ) Na realidade, não compete ao Estado criar essa comunhão de ideias e de sentimentos, sem a qual não existe sociedade; ela deve constituir-se por si própria, limitando-se o Estado a consagrá-la, a mantê-la e a torná-la mais consciente dos particulares. 

Marque a opção que apresenta a sequência CORRETA das sentenças acima: 

(A) V, V, F, V, F.                 (B) F, V, F, V, V.                 (C) F, F, V, V, F. 

(D) V, V, F, V, V.                 (E) F, F, V, V, V.

28. Leia o texto abaixo: Por outro lado, os estudos migratórios, por sua vez, priorizam o diagnóstico dos fluxos e os motivos da migração e focam na busca por melhores condições de vida e de trabalho, na elasticidade trabalho-emprego e na população economicamente ativa, ou seja, homens e mulheres adultos trabalhadores. […] Ainda assim, os movimentos sociais despontam por meio de manifestações sub-reptícias e emergem nos mares, nas ruas, nas praças, nos túneis, por entre os muros, nas escolas, revelando novas dinâmicas que impulsionam novas compreensões para os fluxos de mobilidade humana e, assim, os processos sociais nas instituições educativas. Débora Mazza; Katia Norões. Educação e migrações internas e internacionais. Jundiaí: Paco editorial, 2016. p.12-13. 

Considere a relação entre movimentos sociais e educação e marque a alternativa CORRETA. 

(A) Como movimento social, as migrações comportam um descontentamento, uma insatisfação diante das condições na sociedade de origem, que podem ser econômicas, culturais, ambientais e educacionais. 

(B) As migrações nacionais e internacionais não podem ser compreendidas como movimentos sociais. Falta-lhes a delimitação política de seus objetivos. 

(C) Os estudos migratórios comprovam a desvinculação dos fluxos de mobilidade humana da motivação educacional. 

(D) Na sociedade capitalista contemporânea, a mobilidade humana é melhor compreendida a partir do conceito de classe social, e as migrações como uma expressão dos deslocamentos espaço-temporais da classe trabalhadora. 

(E) A escola é uma instituição social estruturada para acompanhar as mudanças ocasionadas pelos movimentos sociais, pois detém um modo próprio de funcionamento e mecanismos de adaptação.

29. Sobre o conceito de poder elaborado por Max Weber no livro Economia e Sociedade, vol. 1, marque a alternativa CORRETA. 

(A) Poder é a crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercê-lo. 

(B) Poder é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis. 

(C) Poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade. 

(D) Poder é a probabilidade de encontrar obediência pronta, automática e esquemática a uma ordem, entre uma pluralidade indicável de pessoas, em virtude de atividades treinadas. 

(E) Poder é a crença cotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade.

30. 29. Sobre o conceito de poder elaborado por Max Weber no livro Economia e Sociedade, vol. 1, marque a alternativa CORRETA. 

(A) Poder é a crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercê-lo. 

(B) Poder é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis. 

(C) Poder significa toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade. 

(D) Poder é a probabilidade de encontrar obediência pronta, automática e esquemática a uma ordem, entre uma pluralidade indicável de pessoas, em virtude de atividades treinadas. 

(E) Poder é a crença cotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade.

31. A etnicidade tornou-se uma das chaves para a abordagem de questões relacionadas às desigualdades econômico-sociais, conflitos políticos e culturais nas sociedades contemporâneas. (Lima e Castilho, Grupos étnicos e etnicidades. In: Sociologia. Coleção Explorando o Ensino, vol. 15, MEC/SEB, 2010). Marque abaixo a única alternativa INCORRETA no que se refere às contribuições das teorias da etnicidade desenvolvidas a partir dos anos 1960. 

(A) Abordagens primordialistas da etnicidade supõem que a identificação étnica está embasada em laços reais e tangíveis de tipo primordiais e não contextuais. Algumas correntes dessa vertente supõem que os laços primordiais sejam de base biológica, determinadas pela genética e fatores geográficos. Outras correntes defendem que exista uma suposta estrutura cultural, que produz um sentimento de afinidade natural produzida ao longo da história. 

(B) Muito influente no cenário brasileiro, a perspectiva de Fredrik Barth entende que a etnicidade é uma construção histórica situacional, fruto de um processo de adscrição altamente dinâmico e mutável, baseado na interação entre grupos que procuram manter fronteiras entre si, a partir de elementos culturais contextualmente selecionados. É a fronteira étnica que define o grupo, e não o conteúdo cultural por ela delimitado: as tradições culturais são importantes para os grupos étnicos na medida em que são acionadas e utilizadas como símbolo ou emblema de diferença, e não são o único elemento a distinguir tais grupos. 

(C) Para admitir que, ao contrário do que supõem os estereótipos do senso comum, é legítimo que um jovem universitário nascido e habitante de uma metrópole urbana se sinta e se afirme como indígena, por exemplo, temos de adotar uma perspectiva primordialista de etnicidade. 

(D) As noções de identidade étnica, grupos identitários ou de identidade e fenômenos identitários têm sido utilizadas por autores que entendem que termos como grupo e fronteiras, trabalhados por Fredrik Barth, por denotar ainda grande fixidez, dificultam a abordagem da etnicidade no cenário contemporâneo, progressivamente mais fluido e dinâmico, notadamente pelos múltiplos pertencimentos que se superpõem em identidades muitas vezes voláteis. 

(E) As discussões sobre etnicidade criam o efeito político de contribuir para a aceitação da diversidade étnica e cultural e para a assimilação da ideia de que “Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”, nos termos usados por Boaventura de Sousa Santos.

32. A diversidade cultural é questão chave da Antropologia e sempre remete a discussões sobre o etnocentrismo e as perspectivas aceitáveis para que, em um mundo caracterizado pela diversidade, antropólogos e não antropólogos lidem com as diferenças sem transformá-las em desigualdades. Analise as sentenças a seguir, marcando V para as verdadeiras e F para as falsas. 

( ) A visão etnocêntrica pode criar distorções, entre as quais concepções e práticas de preconceito, discriminação, racismo e xenofobia. 

( ) Em Raça e história (1952), Lévi-Strauss argumenta que o etnocentrismo não é algo ruim em si mesmo, desde que não saia do controle, pois, embora as culturas não desconheçam umas às outras e tomem empréstimos entre si, para não perecerem devem permanecer impermeáveis sob alguns aspectos. 

( ) Clifford Geertz, no texto Os usos da diversidade (1986), critica o relativismo assumido por Lévi-Strauss ao abordar a questão do etnocentrismo nos textos Raça e história e O olhar distanciado. O texto de Geertz assume uma perspectiva antirrelativista que inscreve este autor na tradição universalista ou, pelo menos, cosmopolita de cultura. 

( ) Para a maioria dos seus críticos, os pressupostos filosóficos do relativismo autorizam a conclusão de que, “não havendo verdade absoluta, qualquer prática seria válida”. Nestas perspectivas, o relativismo criaria o problema de inviabilizar a crítica e o diálogo entre culturas. 

Assinale a alternativa que indica a sequência CORRETA. 

(A) V, F, F, V.         (B) V, F, F, F.         (C) V, V, V, V.         (D) V, F, V, F.         (E) V, V, F, V.


33. “Para que não se possa abusar do poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o poder contenha o poder. Uma constituição pode ser tal que ninguém será obrigado a fazer as coisas a que a lei não o obrigue nem a não fazer as que a lei lhe permite”. (Montesquieu, O espírito das leis, Livro XI, Capítulo IV). É INCORRETO afirmar que: 

(A) A teoria dos poderes de Montesquieu estabelece aquilo que o pensamento liberal contemporâneo chama de sistema de check and balances (freios e contrapesos), através dos quais cada instituição exerce o poder de determinadas forças sociais para contrariar e moderar o poder das demais. 

(B) É uma interpretação corrente que, em busca de uma força moderadora capaz de dar estabilidade aos governos ou regimes, sempre ameaçados pela anarquia ou pelo despotismo, Montesquieu propõe que as instituições das democracias modernas sejam modeladas pelo princípio da virtude cívica, o qual guiou os regimes republicanos ao longo da história. 

(C) É uma interpretação corrente que, embora Montesquieu reconheça elementos de moderação tanto nas repúblicas quanto nas monarquias, o autor considera que a dependência da virtude cívica fragiliza a estabilidade das repúblicas, enquanto a estabilidade das monarquias vincula-se às suas instituições. 

(D) A teoria dos poderes de Montesquieu é conhecida como separação ou equipotência dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A ideia de separação comporta as de independência de um poder em relação aos demais e a de sua equivalência. 

(E) A preocupação de Montesquieu com a estabilidade dos governos é similar, do ponto de vista temático, à preocupação de Maquiavel ao discutir as condições de manutenção do poder na obra O Príncipe.

34. A Sociologia se constitui como uma das expressões do pensamento moderno, dialogando fundamentalmente com as transformações desencadeadas pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial. Nas obras dos pais fundadores da disciplina, encontramos projetos que objetivavam, ao mesmo tempo, apontar as especificidades da nova sociedade, situá-la em relação às formas de organização social do passado e delinear perspectivas para o futuro. Seguindo a interpretação de Raymond Aron, em As etapas do pensamento sociológico, é CORRETO afirmar que: 

(A) Para Émile Durkheim, a sociedade moderna distingue-se das organizações sociais primitivas por não depender dos vínculos morais fundados na religião. 

(B) A sociedade moderna é definida, por Karl Marx, como a que funda o surgimento da sociedade de classes. 

(C) A proposta conservadora de Auguste Comte se funda na avaliação, graças à teoria dos três estados, de que o capitalismo não pode tornar-se universal porque não permite o estabelecimento do consenso social. 

(D) Para Auguste Comte, a sociedade moderna do século XIX é essencialmente uma sociedade industrial e se caracteriza pelo desaparecimento das estruturas teológicas presentes nas sociedades anteriores. 

(E) Como Auguste Comte, Alexis de Tocqueville identifica na racionalidade a principal característica das relações entre economia e política na modernidade.


35. “Na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina sua consciência”. (Karl Marx, Contribuição ao Prefácio à Crítica da Economia Política). Em relação ao conceito de modo de produção, analise as sentenças abaixo, marcando V para as verdadeiras e F para as falsas: 

I - O conceito de forças produtivas corresponde à combinação da força de trabalho humana (força física e conhecimento técnico) com os meios de produção (objetos de trabalho como ferramentas, máquinas, a terra e demais recursos naturais). 

II - O conceito de relações de produção ou relações sociais de produção diz respeito ao regime de propriedade, às formas de repartição do produto e à estrutura de classes. Para Marx, é a contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção que impulsiona o desenvolvimento histórico. 

III - A caracterização de um modo de produção depende do reconhecimento de como as relações sociais de produção são reproduzidas, ou seja, quais são as determinações da permanência contínua da reprodução do modo de produção, o que nos leva, necessariamente, a ter que desvendar quais são as características essenciais dessas relações sociais de produção; como estão distribuídos os meios de produção; como se dá a apropriação do que é produzido; como estão dispostos os humanos nessas relações sociais de produção (as classes sociais); a forma de Estado e de todo o aparelho jurídico-político derivado dessas relações e essencial para a reprodução; bem como as representações ideológicas e políticas que permitem até certo ponto a coesão social sem eliminar os conflitos inerentes às contradições fundadas na estrutura econômica. 

IV - No trecho citado, é expressa a concepção determinista e finalista, segundo a qual o conjunto das relações sociais é determinado no âmbito da produção econômica e, a partir daí, reflete-se no aparelho jurídicopolítico e nas representações ideológicas. 

As alternativas que apresentam sentenças VERDADEIRAS são: 

(A) I e II, apenas.             (B) I, II e III, apenas.             (C) I, II e IV, apenas

(D) III e IV, apenas.          (E) Todas as alternativas.


36. Com base no livro Da divisão do trabalho social, de Émile Durkheim, assinale a alternativa INCORRETA. 

(A) O problema mais importante da sociedade moderna é controlar o risco de anomia, que se verifica em consequência da ampliação das forças de diferenciação, do individualismo. Nos termos de Durkheim, isso equivale à necessidade de manter o mínimo de consciência coletiva a fim de evitar que a solidariedade orgânica provoque a desintegração social. 

(B) Os vínculos estabelecidos com a solidariedade orgânica constituem o fundamento do tipo de solidariedade social das sociedades mais simples, uma vez que esse tipo de solidariedade opera por similitudes. 

(C) A diferenciação social é um fenômeno característico das sociedades modernas e é condição criadora da liberdade individual. Nestas condições, a consciência coletiva perdeu parte de sua rigidez e o indivíduo pode ter certa autonomia de julgamento e de ação. 

(D) A principal função da divisão do trabalho social é o estabelecimento de uma ordem social e moral, que integra e dá coesão ao corpo social. Diante disso, a função econômica da divisão do trabalho social é importante, mas apenas secundária ou uma de suas manifestações. 

(E) Os vínculos estabelecidos com a solidariedade orgânica constituem o fundamento do tipo de solidariedade social das sociedades mais simples, uma vez que esse tipo de solidariedade opera por similitudes.


37. Considerando os textos A Ciência como vocação e A Política como vocação, de Max Weber, julgue as afirmações abaixo e marque a alternativa INCORRETA: 

(A) Weber propõe que os métodos científicos adotados pela Sociologia permitem o conhecimento da realidade intrínseca aos fenômenos sociais, uma ideia também exposta em seus textos que tratam do princípio da neutralidade axiológica. 

(B) A tendência crescente à especialização da atividade científica é intrínseca a um inexorável processo de racionalização que atua em todas as esferas da realidade. 

(C) A ética da responsabilidade e a ética da convicção não se contrapõem, mas se complementam e em conjunto formam o indivíduo que pode aspirar à “vocação política”. 

(D) O processo de desencantamento do mundo corresponde ao abandono de forças e poderes misteriosos e imprevisíveis para explicar os fenômenos, e à sua substituição pela técnica e capacidade de previsão fundadas na intelectualização e racionalização. 

(E) Na distinção entre a ética da responsabilidade e ética da convicção, Weber define a primeira como a atitude daquele que leva em consideração as consequências previsíveis de seus atos e a segunda como a atitude daquele que, convencido da justeza dos seus atos, é indiferente aos efeitos que tais atos possam acarretar.


38. Analise as sentenças a seguir: 

I - As teorias críticas da educação e do currículo desenvolvidas na década de 1970 opuseram-se às teorias tradicionais do currículo, deslocando o foco de interesse das técnicas de construção do currículo para o questionamento dos arranjos sociais e educacionais, buscando explicar o que o currículo faz. Exemplificam essas teorias Ideologia e os aparelhos ideológicos de Estado, de Louis Althusser; A reprodução, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron; A Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire; os trabalhos do norte-americano Michael Apple e do inglês Michael Young; e os diversos estudos embasados nas correntes pós-modernas. 

II - A noção de “currículo oculto” foi utilizada por perspectivas críticas em dois sentidos. No primeiro, indica que a principal estratégia de exclusão operada pelos currículos é a diferença dos conteúdos dos programas escolares destinados aos filhos das classes dominantes e daqueles destinados aos das classes dominadas. Em um segundo sentido, guarda analogias com a dimensão prática e material da ideologia tal como descrita por Louis Althusser.

III - Perspectivas críticas contemporâneas têm buscado incorporar aos debates sobre os currículos escolares as estratégias de desconstrução de narrativas e das identidades nacionais, étnicas e raciais que têm sido desenvolvidas nos campos teóricos do pós-estruturalismo, dos Estudos Culturais e Pós-Coloniais. 

IV - Ao questionar a aparente neutralidade – em termos de gênero – do conhecimento do mundo social, teorias feministas permitem o questionamento da influência da epistemologia dominante – que expressa a cosmovisão masculina fundada na separação entre sujeito e objeto – sobre os currículos escolares e sobre as práticas pedagógicas. 

Conforme pode ser encontrado em obras que abordam e/ou desenvolvem diferentes correntes nos estudos sociológicos da educação, tais como o livro Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo, de Tomaz Tadeu da Silva, está CORRETO o que se afirma em: 

(A) I e II, apenas.                 (B) III, apenas.             (C) I, II e III, apenas. 

(D) III e IV, apenas.             (E) IV, apenas.


39. “Vários analistas têm afirmado que a teorização sobre os movimentos sociais é a parte mais difícil, na qual se encontram as grandes lacunas na produção acadêmica. Por quê? Porque, concordando com Melucci, eles são "parte da realidade social na qual as relações sociais ainda não estão cristalizadas em estruturas, onde a ação é portadora imediata de tessitura relacional da sociedade e do seu sentido" (Melucci, 1994: 190). Ou seja, os movimentos transitam, fluem e acontecem em espaços não-consolidados das estruturas e organizações sociais. Na maioria das vezes eles estão questionando estas estruturas e propondo novas formas de organização à sociedade política. Por isso eles são inovadores (...) e são lumes indicadores da mudança social. Citando ainda Melucci (1994, p. 190), ‘eles são uma lente por intermédio da qual problemas mais gerais podem ser abordados, e estudá-los significa questionar a teoria social e tratar questões epistemológicas tais como: o que é a ação social? (Maria da Glória Gohn. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 11ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 1997). Acerca das abordagens nos estudos dos movimentos sociais, assinale a alternativa INCORRETA. 

(A) De acordo com Gohn, as teorias dos novos movimentos sociais (NMS) e as abordagens denominadas neomarxistas, constituem paradigmas europeus nos estudos dos movimentos sociais a partir da década de 1960. 

(B) Os trabalhos desenvolvidos entre os anos 1920 e 1930 por Herbert Blumer, um dos representantes da escola sociológica de Chicago, destacam-se entre as abordagens clássicas norte-americanas de análise dos movimentos sociais. A grande preocupação de Blumer era entender os mecanismos e significados por meio dos quais os movimentos tornam-se aptos para crescer e se organizar. 

(C) No estudo dos movimentos sociais, o paradigma norte-americano inclui as teorias clássicas da ação coletiva, a teoria da mobilização de recursos (MR) e as teorias dos novos movimentos sociais (NMS). 

(D) Os NMS não constituem uma teoria homogênea, e sim um bloco referencial teórico ambíguo, já que alguns de seus autores partem de premissas totalmente distintas do marxismo (como é o caso de Alberto Melucci); outros fazem uma ruptura na forma de abordagem, mas trabalham com as macroestruturas societais (caso de Alain Touraine); e outros ainda questionam a validade da utilização de alguns prognósticos realizados por Marx, arguindo pela necessidade de sua atualização, sem negar a validade das categorias básicas do marxismo (caso de Claus Offe). 

(E) Claus Offe apontou que o aspecto essencialmente novo dos movimentos sociais que emergiram no hemisfério norte a partir dos anos 1960 (estudantil, feminista, de liberação sexual, lutas ecológicas, de minorias étnicas e linguísticas, de comunidades e contraculturas, relativos às questões de saneamento, saúde e pacifistas) diz respeito ao seu modelo de ação. Para ele, os Novos Movimentos Sociais atuam num espaço de política não institucional e com métodos não convencionais como forma de negar ou expressar o reconhecimento das limitações das práticas da democracia liberal e do Estado de Bem-Estar.


40. Diversos autores atribuem o surgimento, na década de 1990, da organização internacional de camponeses Via Campesina à crescente mercantilização e internacionalização da agricultura. (Adaptado de Flávia Braga Vieira, Articulações internacionais “desde baixo” em tempos de globalização. In: Maria da Glória Gohn e Breno M. Bringel (orgs.)) Em relação aos novos movimentos sociais camponeses ou do campo, analise as sentenças a seguir, marcando V para as verdadeiras e F para as falsas. 

( ) A oposição aos modelos agrícolas adotados pelo agronegócio, às instituições financeiras internacionais e a organizações multilaterais como a OMC constituem elementos que reforçam o sentimento de pertencimento e os vínculos de solidariedade entre as organizações-membro de articulações como a Via Campesina. 

( ) Para movimentos camponeses como o MST e a Via Campesina, a defesa da soberania alimentar implica a defesa de novos modelos de agricultura, de distribuição da terra e de mundo que remetem à ideia de soberania nacional, entendida como soberania popular. 

( ) No final do século XX e do século XXI, os movimentos camponeses inovam ao manterem questões clássicas como o internacionalismo da luta de classes e, ao mesmo tempo, acionarem temas contemporâneos como as questões de gênero e meio ambiente e assimilarem estratégias de ação de ONGs e redes transnacionais aos quais se opõem. 

( ) O compartilhamento de ideias e os vínculos de solidariedade de articulações internacionais como a Via Campesina excluem a existência de divergências e conflitos entre as organizações-membro. 

( ) Os movimentos camponeses do século XXI apresentam, como limitação, o fato de que suas demandas permanecem reivindicativas e corporativas, sem transcender os limites do ambiente rural. 

A alternativa que apresenta a sequência CORRETA é: 

(A) V, V, V, F, F.             (B) V, F, V, V, F.             (C) F, V, F, V, F. 

(D) V, V, F, F, V.             (E) F, V, V, F, F.

Comentários