Questões de Concurso - IFSP 2019 Sociologia

 

Olás,


Seguindo na preparação e ajuda nos estudos para os primeiros exames do semestre 1.2022, deixo mais uma prova à disposição para refletirmos como a Sociologia e as Ciências Sociais são consideradas em concursos públicos.

Tomaremos agora, como objeto, o certame IFSP 2019 para Professor de Sociologia, para nossa 40ª publicação a respeito.


Esta prova contém assuntos relacionados não apenas à Sociologia e Sociologia do Direito, mas também à Sociologia da Educação. Trata-se de um certame voltado para professor de Sociologia de um Instituto Federal, com uma prova longa e com questões que pedem uma boa leitura e atenção dos(as) candidatos(as).


9. A obra de Paulo Freire “Pedagogia da Autonomia” está dividida em três capítulos: 

“Não há docência sem discência”; “Ensinar não é transferir conhecimento” e “Ensinar é uma especificidade humana”. 

Com isso o autor apresenta, analisa e discute uma série de características, conceitos e fundamentos sobre o ato de ensinar. 

Assinale a alternativa que contemple de forma correta alguns dos pressupostos desta obra sobre o ato de ensinar: 

(A) Uma das tarefas primordiais dos educadores é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis, isto é, a preocupação central da práxis pedagógica é a transmissão e assimilação de conteúdos para os sujeitos das classes populares. Afinal, esses sujeitos somente poderão superar a ingenuidade e ignorância por meio da apropriação dos conteúdos técnicos. 

(B) Ensinar exige criticidade e pesquisa. Assim, para aproximar o mundo do conhecimento das classes trabalhadoras é preciso abandonar e negar o senso comum de modo a superar a visão ingênua para construir, por meio da ciência, a visão crítica, capaz de questionar as relações sociais. 

(C) É possível e desejável que os estudantes das classes trabalhadoras se tornem leitores críticos da realidade, a partir dos ensinamentos dos professores. O educador estabelece com o educando uma relação educador-educando no qual o conhecimento advém daquele que já percorreu uma trajetória acadêmica, isto é, o educador. Cabe ao educador instigar a curiosidade crítica para que o educando seja capaz de superar a realidade imediata. 

(D) Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo, educo e me educo.


11 Sobre o conceito de capital social desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), é possível afirmar que: 

(A) A noção de capital social impôs-se, primeiramente, como uma hipótese dispensável para dar conta da desigualdade de desempenho escolar de crianças provenientes das diferentes classes sociais. 

(B) O capital social é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de “interconhecimento” e “interreconhecimento”. 

(C) A noção de capital social impôs-se como, entre os diferentes meios de designar o fundamento de efeitos sociais, um determinante que não considera o capital econômico e cultural dos diferentes grupos. 

(D) O volume do capital social que um agente individual possui independe da extensão da rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume do capital (econômico, cultural ou simbólico) que é posse exclusiva de cada um daqueles a quem está ligado. 


12 Freire (2011, p.49) aponta que “o clima do pensar certo não tem nada a ver com o das fórmulas pré-estabelecidas, mas seria a negação do pensar certo se pretendêssemos forjá-lo na atmosfera da licenciosidade ou do espontaneísmo”. Assinale a alternativa que apresenta corretamente a relação entre “pensar certo” e “método” para Freire (2011): 

(A) Não há pensar certo sem considerar o materialismo histórico-dialético. 

(B) O método escolhido pelo sujeito determina seu pensar certo. 

(C) Sem rigorosidade metodológica não há pensar certo. 

(D) O pensar certo é possível a partir do método que lhe confere veracidade. 


13 Demerval Saviani descreve onze teses sobre educação e política em sua obra Escola e Democracia, mostrando como se configuram as relações entre educação e política e evidenciando que “toda prática educativa, como tal, possui uma dimensão política assim como toda prática política possui, em si mesma, uma dimensão educativa.” Assinale a alternativa que apresenta corretamente a definição sobre a dimensão política da educação presente na obra referida acima: 

(A) A dimensão política da educação apresenta uma existência histórica e pode ser compreendida para além das manifestações sociais determinadas. 

(B) A dimensão política da educação consiste em que, dirigindo-se aos não-antagônicos a educação os fortalece (ou enfraquece) por referências aos antagônicos e desse modo potencializa (ou despotencializa) a sua prática política. 

(C) A dimensão política da educação consiste em envolver a articulação entre antagônicos visando a derrota dos não-antagônicos. 

(D) A dimensão política da educação consiste no enfraquecimento dos não-antagônicos em busca da apropriação dos instrumentos culturais. 


14 No livro “Escola e Democracia”, Saviani (2018) destaca que a importância política da Educação reside na sua função de socialização do conhecimento. Nesse aspecto, elabora onze teses sobre Educação e Política. Assinale a alternativa que corresponde a uma dessas teses: 

(A) Nem toda prática educativa contém uma dimensão política. 

(B) A especificidade da prática educativa se define pelo caráter de uma relação que se trava entre contrários antagônicos. 

(C) As sociedades de classe se caracterizam pelo primado da política, o que determina a insubordinação real da educação à prática educativa. 

(D) Toda prática educativa contém inevitavelmente uma dimensão política. 


15 Ao caracterizar a relação entre educação e sociedade para as teorias não-críticas, Saviani (2018, p. 4) afirma que concebem “a educação com uma ampla margem de autonomia em face da sociedade”, cabendo-lhe “um papel decisivo na conformação da sociedade evitando sua desagregação e, mais do que isso, garantindo a construção de uma sociedade igualitária”. Assinale a alternativa que apresenta corretamente as pedagogias que Saviani (2018) define como teorias não-críticas.

(A) Pedagogia Nova e Teoria da Escola como Aparelho Ideológico de Estado (AIE). 

(B) Pedagogia Tradicional, Pedagogia Tecnicista e Teoria da Escola Dualista. 

(C) Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista. 

(D) Pedagogia Tecnicista e Teoria da Escola como Aparelho Ideológico de Estado (AIE)


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS 

16 “Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se combater: uma, pelas leis, outra, pela força. A primeira é própria do homem; a segunda, dos animais. Como, porém, a primeira não seja suficiente, é preciso recorrer a segunda. Ao príncipe torna-se necessário, porém, saber empregar convenientemente o animal e o homem”. (MAQUIAVEL, N. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978). De acordo com este trecho da obra “O Príncipe”, de Maquiavel, é correto afirmar que: 

(A) Maquiavel se utiliza de uma interpretação idealista do poder do Príncipe, o qual deve adotar as leis da natureza para se manter como bom governante. 

(B) Baseado em elementos históricos, Maquiavel orienta o Príncipe a seguir as normas morais da Igreja Católica para fazer um bom governo e se manter no poder. 

(C) A análise empírica feita por Maquiavel o leva a considerar que a manutenção do poder do Príncipe não depende da moral cristã ou de bons princípios. 

(D) Pelas perspectivas históricas, analisadas por Maquiavel, somente o uso da força pode garantir o poder do Príncipe. 


17 “É certo que este conceito de coação, pelo qual definimos os fatos sociais, corre o risco de enfurecer os zelosos partidários de um individualismo absoluto. Como esses professam a crença de que o indivíduo é perfeitamente autônomo, parece-lhes estarem a diminuí-lo ao fazê-lo sentir que não depende unicamente de si próprio. Ora, uma vez que hoje é incontestável que as nossas ideias e tendências não são, na sua maior parte, elaboradas por nós, mas nos chegaram do exterior, só poderão infiltrar-se se se impuserem; isto é tudo quanto a nossa definição pretende significar. Sabe-se, aliás, que a coação social não exclui necessariamente a personalidade individual”. (DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. In: Os pensadores. Trad. de Carlos Alberto Ribeiro de Moura, Luz Cary, Margarida Garrido Esteves e J. Vasconcelos Esteves, São Paulo: Abril Cultural, 1978). De acordo com o texto acima, assinale a alternativa que, de acordo com Durkheim, contemple os nexos entre divisão do trabalho, solidariedade social, individualidade e suicídio. 

(A) O aumento da divisão do trabalho resultou em uma forma específica de solidariedade social, de tipo mecânica, em embotamento da individualidade e contribuiu para a elevação da forma egoísta de suicídio. 

(B) O aumento da divisão do trabalho resultou em uma forma específica de solidariedade social, de tipo mecânica, em embotamento da individualidade e contribuiu para a elevação da forma altruísta de suicídio. 

(C) O aumento da divisão do trabalho resultou em uma forma específica de solidariedade social, de tipo orgânica, em propulsão à individualidade e contribuiu para a elevação da forma altruísta de suicídio. 

(D) O aumento da divisão do trabalho resultou em uma forma específica de solidariedade social, de tipo orgânica, em propulsão à individualidade e contribuiu para a elevação das formas egoísta e anômica de suicídio. 


18 “[...] Já tive a ocasião de ver diversos rapazes com menos de vinte anos de idade que nunca tinham feito qualquer trabalho além de produzir pregos e que, quando se esforçavam, conseguiam fazer mais de dois mil e trezentos pregos por dia. O fabrico de um prego, porém, não é de forma alguma uma das tarefas mais simples. A mesma pessoa aciona o fole, agita ou corrige o fogo se tal for necessário, aquece o ferro e forja todas as partes do prego; para forjar a cabeça é ainda obrigada a mudar de ferramentas. As diferentes operações em que o fabrico de um prego, ou de um botão metálico, se subdivide são muito mais simples do que a totalidade das operações, e por conseguinte é muito maior a destreza do operário que durante toda a sua vida tenha tido sempre a mesma função. A rapidez com que algumas das operações dessas indústrias são efetuadas excede aquilo que se pode imaginar e que nunca tinha sido visto sobre a destreza do trabalho humano”. (SMITH, A. Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. In: SMITH, A.; RICARDO, D. Os pensadores. Trad. de Conceição Jardim Maria do Carmo Cary e Eduardo Lúcio Nogueira, São Paulo: Abril, 1974). 

Com base no texto, assinale a alternativa que, corretamente, contemple o pensamento de Adam Smith acerca da divisão do trabalho e suas implicações sociais. 

(A) A divisão do trabalho não distribui naturalmente bem-estar às camadas mais pobres porque, ao consumir uma mercadoria, um trabalhador especializado consome menos trabalho desempenhado por outros trabalhadores do que aquele que ele mesmo efetivou em sua atividade específica. 

(B) A divisão do trabalho não distribui naturalmente bem-estar às camadas mais pobres porque produz desigualdades “justificáveis” e “injustificáveis”, sendo as primeiras de estatuto econômico e as segundas de características políticas e impeditivas da liberdade. 

(C) A divisão do trabalho distribui naturalmente bem-estar entre todos e não pode, por isso, nas relações entre explorados e exploradores, receber interferências da política – a mão invisível do mercado resolve os desequilíbrios mediante a autorregulação da oferta e da demanda. 

(D) A divisão do trabalho distribui naturalmente bem-estar entre todos; contudo, além da autorregulação pela oferta e pela demanda, conta com a colaboração da política, uma vez que a mão invisível do mercado elimina apenas as desigualdades “justificáveis” e não as “injustificáveis”. 


19 Em O Capital, Karl Marx inicia sua crítica à Economia Política Inglesa pela crítica à noção de riqueza. Segundo ele, “à primeira vista, a riqueza burguesa aparece como uma enorme acumulação de mercadorias, e a mercadoria isolada como seu modo de ser elementar”. (MARX, Karl. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 136). Assinale a alternativa que corresponda às características da mercadoria, explicitadas por Marx, e que, para ele, permitem a elaboração crítica da economia política inglesa: 

(A) Valor de uso que, através de sua alienação no processo de troca, é capaz de se apresentar como ouro e prata, isto é, como dinheiro, ou seja, como valor de troca geral expresso por um equivalente universal. 

(B) Trabalho contido no valor de troca como trabalho social, abstratamente geral, decorrente da alienação multilateral dos trabalhos individuais; o dinheiro é a forma de existência imediata deste trabalho alienado. 

(C) Uma coisa qualquer, necessária, útil ou agradável para a vida, objeto de necessidades humanas, meio de vida no sentido mais amplo da palavra, capaz de se apresentar como símbolo da riqueza. 

(D) Trabalho concreto e particular, que se subdivide em infinitos modos de trabalhos diferentes, segundo a sua forma e sua matéria, incapaz de se apresentar como valor de troca e por isso dependente de um equivalente geral. 


20 A partir da observação da obra a seguir e considerando o período histórico em que ela foi produzida, assinale a alternativa correta: (WRIGHT, Joseph. A Lição com o Planetário. Óleo sobre tela, 1766. Disponível em: < https://institutopoimenica.com>. Acesso em: 23 de nov. 2018). 

(A) O Iluminismo foi caracterizado por uma visão muito otimista da capacidade do ser humano em construir o seu próprio destino. Para tanto, defendia-se a liberdade de pensamento e a necessidade de um sistema escolar formado pelas sete artes liberais. 

(B) A obra retrata a atmosfera social, econômica e política do Iluminismo: conjugação da ciência e da arte, o apelo ao conhecimento e a crença nas explicações racionais para fenômenos sociais e naturais. Defesa da introdução do ensino de ciências no sistema escolar.

(C) A pintura de Joseph Wright denuncia o caráter excludente da produção científica da época, capitaneada pela pequena burguesia industrial e pautada em dogmas particulares e na crença do modelo heliocêntrico de astronomia. 

(D) Defesa da introdução da história e da ciência no currículo escolar, bem como o combate aos dogmas religiosos. Todavia, a busca de explicações racionais para fenômenos naturais e sociais não obteve êxito nesse período, apesar da enorme produção intelectual. 


21 Ao analisar o fenômeno da dominação e suas distintas formas de legitimação na sociedade, Max Weber menciona uma situação em que o quadro administrativo é composto por “servidores [que] são recrutados em completa dependência pessoal do senhor, seja sob a forma puramente patrimonial [...] ou extrapatrimonial, de camadas não totalmente desprovidas de direitos [...]. Sua administração é totalmente heterônoma e heterocéfala”. (WEBER, M. In: COHN, G. (Org.). Max Weber. Sociologia. São Paulo: Ática, 1979). De acordo com a teoria de Max Weber, tal quadro administrativo corresponde: 

(A) à dominação legal em virtude do estatuto, cuja ideia básica é a de que qualquer direito pode ser criado e modificado mediante um estatuto sancionado corretamente quanto à forma. 

(B) à dominação tradicional em sua forma patriarcal. Segundo Weber, nessas situações, o domínio é tratado como um direito corrente de exercício do senhor. 

(C) à dominação tradicional em sua forma estamental, na qual os servidores não o são pessoalmente do senhor, e sim, pessoas independentes, de posição própria que lhes angaria proeminência social. 

(D) à dominação de classe que historicamente assumiu a forma de dominação oligárquica baseada na propriedade da terra, como o coronelismo no Brasil e o mandarinato na China. 


22 “A Sociologia nasce e desenvolve-se com o Mundo Moderno. Reflete as suas principais épocas e transformações. Em certos casos, parece apenas a sua crônica, mas em outros desvenda alguns dos seus dilemas fundamentais. Os impasses e as perspectivas desse Mundo tanto percorrem a Sociologia como ela percorre o mundo. Se nos debruçamos sobre os temas clássicos da Sociologia, bem como sobre as suas contribuições teóricas, logo nos deparamos com as mais diversas expressões desse Mundo. Mais do que isso, o Mundo Moderno depende da Sociologia para ser explicado, para compreender-se. Talvez se possa dizer que sem ela esse Mundo seria mais confuso, incógnito. A Sociologia não nasce do nada. Surge em um dado momento da história do Mundo Moderno. Mais precisamente, em meados do século XIX, quando ele está em franco desenvolvimento, realizando-se. Essa é uma época em que já se revelam mais abertamente as forças sociais, as configurações de vida, as originalidades e os impasses da sociedade civil, urbano-industrial, burguesa ou capitalista”. (IANNI, Octávio. A Sociologia e o Mundo Moderno. Tempo Social; Rev. Social. USP, S. Paulo, VOLUME 1(1), p. 7-27, 1 sem. 1989). O texto aponta, dentre outros aspectos, para a origem da Sociologia, relacionando-a às transformações da Modernidade. Com base nessas informações, assinale a alternativa correta sobre o clássico da sociologia e sua visão sobre a Modernidade: 

(A) Karl Marx foi um pensador que, em sua produção teórica, colocou-se em favor da classe trabalhadora e da burguesia. Em relação à burguesia, estudou a liderança de classe frente ao avanço e consolidação do capitalismo industrial. 

(B) Émile Durkheim compreende o progresso como elemento unificador da vida social ao provocar o enfraquecimento das instituições. 

(C) Auguste Comte, para quem o progresso geraria ilusão e contradições, defendia a manutenção de formas tradicionais de vida e de organizações sociais. 

(D) Max Weber considerou que as transformações são acompanhadas por forte modernização, racionalização e burocratização da administração, corroborando para o que denomina de “desencantamento do mundo”. 


23 Dentre os autores marxistas que se debruçaram sobre as relações de poder no capitalismo na segunda metade do século XX, Nicos Poulantzas destacou-se ao realizar um estudo abrangente sobre as classes sociais, o Estado e as alianças políticas, cuja análise extrapola a dimensão puramente econômica, incorporando também as instâncias políticas e ideológicas. Sobre as características relativas ao conceito de Bloco no Poder, assinale a alternativa correta:

(A) A classe ou fração de classe designada como hegemônica dentro do Bloco de Poder se distingue necessariamente da classe ou fração de classe designada como reinante. 

(B) A existência de um bloco no poder requer necessariamente a presença de uma classe ou fração de classe designada como hegemônica na direção do poder político. 

(C) A luta política entre a burguesia e o proletariado tem um papel secundário em relação às contradições internas presentes do Bloco no Poder. 

(D) A classe ou fração de classe que desempenha o papel dominante na economia é necessariamente a mesma que detém a hegemonia dentro do Bloco de Poder. 


24 No capítulo intitulado “A Beleza do Morto”, do livro “A Cultura no Plural”, Michel de Certeau analisa a noção de “cultura popular” formulada pelos intelectuais a partir dos estudos desenvolvidos nos séculos XVIII, XIX e XX. De acordo com ele, a cultura é um objeto cuja apropriação está sempre em disputa. Assinale a alternativa que expressa corretamente uma das ideias criticadas por Michel de Certeau: 

(A) A existência de um olhar sobre o passado que resgata as tensões sociais. 

(B) A neutralidade do método e o discurso desinteressado sobre o passado. 

(C) A consideração do passado como um entrave à modernidade. 

(D) A ausência do sentimento de nostalgia de um passado remoto. 


25 “A partir dos anos cinquenta, porém, com a recuperação do capitalismo central, que se manifesta através dos investimentos das empresas multinacionais no setor industrial dos países periféricos, e com o desenvolvimento nesses países de estados nacionais tecnoburocráticos, define-se um novo modelo de desenvolvimento. Este novo modelo industrializa os países, mas não resolve seus problemas principais”. (BRESSER PEREIRA, L. C. A economia do subdesenvolvimento industrializado. Estudos Cebrap. São Paulo: Brasileira de Ciências/Brasiliense. n.14, out./nov./dez. 1976). Esse processo histórico-econômico é denominado, por Bresser Pereira, de Modelo de Subdesenvolvimento Industrializado Tecnoburocrático-Capitalista. Quanto às características desse modelo elencadas pelo autor, assinale a alternativa correta: 

(A) Aumenta o grau de dependência; concentra a renda; marginaliza grande parte da população; desenvolve a indústria de bens de consumo prioritariamente à indústria de bens de capital; justifica o controle autoritário da sociedade por uma tecnoburocracia desenvolvimentista. 

(B) Aumenta o grau de dependência; aumenta a renda total; desenvolve indústrias de bens de capital; desenvolve forças nacionalistas que geram coesão social; diminui o grau de dependência externa; justifica o controle autoritário da sociedade por uma tecnoburocracia desenvolvimentista. 

(C) Diminui o grau de dependência; desconcentra a renda; desenvolve a indústria de bens de consumo em detrimento da indústria de bens de capital; dá origem a forças internacionalistas; justifica e legitima o controle autoritário da sociedade por uma tecnoburocracia desenvolvimentista. 

(D) Economia dividida entre um setor moderno baseado na produção de bens de capital e outro tradicional de características pré-capitalistas pouco significativas para merecer atenção especial do analista; governo democrático assentado na legitimidade da tecnoburocracia. 


26 Ao tratar dos processos histórico-sociais de transição da situação de dependência colonial para a situação de dependência nacional na América Latina, Fernando Henrique Cardoso mostra que há várias possibilidades de haver transformações econômicas, mesmo em um contexto de dependência, fenômeno este que ele vai chamar de “Desenvolvimento Dependente”. Em conjunturas de crise internacional, com grande queda nas exportações, esse tipo de transição requer maior amplitude, exigindo, portanto, mudanças mais profundas no padrão de desenvolvimento dos países periféricos. É correto afirmar que o ponto de partida para promover as mudanças no padrão de desenvolvimento é dado: 

(A) pela redefinição das alianças políticas entre grupos e classes sociais. 

(B) pelo fortalecimento das estruturas burocráticas do aparelho de Estado. 

(C) pela associação entre a burguesia nacional e a burguesia hegemônica. 

(D) pela capitalização crescente da produção exportadora.


27 Para a análise científica da cultura, Malinowski propõe determinada formulação conceitual para expressar a unidade de organização humana. Tal conceito implica “uma concordância sobre uma série de valores tradicionais por força dos quais os homens se reúnem”. (MALINOWSKI, B. Uma teoria científica da cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1970). Tal conceito utilizado por Malinowski corresponde: 

(A) ao conceito de função, um dos axiomas gerais do Funcionalismo. 

(B) ao conceito de cultura, que abrange crenças e costumes. 

(C) ao conceito de estrutura, próprio da Antropologia Estrutural. 

(D) ao conceito de instituição, posto que, para ele, a cultura é um conjunto integral de instituições. 


28 Em “A economia do subdesenvolvimento industrializado”, Luiz Carlos Bresser Pereira discute a modernização capitalista no Brasil, destacando o modo particular assumido pelo processo de desenvolvimento do país após a Segunda Guerra Mundial. Para tanto, Bresser Pereira vai lançar mão do conceito de Dualismo Histórico-Estrutural, que compreende a coexistência entre: 

(A) Um setor capitalista moderno e um setor pré-capitalista. 

(B) Um setor capitalista marginal e um setor capitalista exportador. 

(C) Um setor capitalista moderno e um setor capitalista tradicional. 

(D) Um setor capitalista exportador e um setor capitalista dependente. 


29 No ensaio “Urbanizaçao ‘sociopática’ e tensões sociais na América Latina”, presente no livro Ensaios de sociologia do desenvolvimento, Luiz Pereira faz uma discussão sobre as consequências sociais do desenvolvimento das economias latino-americanas, notadamente no que se refere ao processo de urbanização. Sobre a definição dada por Luiz Pereira ao que ele chama de Urbanização Sociopática, é correto afirmar que esse fenômeno social:

(A) está associado de modo intrínseco e necessário à etapa urbano-industrial do processo geral de desenvolvimento histórico do modo capitalista de produção. 

(B) decorreu do fortalecimento dos laços de dependência entre as economias dos países periféricos e dos países centrais no pós-II Guerra Mundial. 

(C) resultou da urbanização generalizada das economias periféricas sem a contrapartida necessária em termos de crescimento das oportunidades de emprego. 

(D) é típico do desenvolvimento capitalista latino-americano, que se caracteriza pela inadaptação do trabalhador do campo à disciplina fabril. 


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Texto 1: “Desde que se compreenda em toda a sua amplitude a noção de disciplina, desde que se reconheça que uma disciplina escolar comporta não somente as práticas docentes da aula, mas também as grandes finalidades que presidiram sua constituição e o fenômeno de aculturação de massa que ela determina, então a história das disciplinas escolares pode desempenhar um papel importante não somente na história da educação, mas na história cultural”. (CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões de um campo de pesquisa. Teoria & Educação. 2, 1990). 

Texto 2: “Ao discorrer sobre a construção das disciplinas escolares, em particular sobre a ortografia francesa, Chervel criticava os esquemas explicativos que posicionavam o saber escolar como um saber inferior ou derivado dos saberes superiores, fundados pelas universidades; e a noção da escola como simples agente de transmissão de saberes elaborados fora dela [...]”. (FARIA FILHO, L.M. et al. A cultura escolar como categoria de análise e como campo de investigação na história da educação brasileira. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 1). 

André Chervel, no texto “História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa”, afirma que cada uma das disciplinas que compõe o currículo escolar são: 

(A) Construções provenientes dos consensos sociais que se impõem sobre a escola. 

(B) Conteúdos rígidos e fixos ensinados na escola, que perpassam gerações sem alterações.

(C) Tradução das ciências consideradas pela sociedade como relevantes para serem ensinadas às gerações mais jovens. 

(D) Produto próprio da escola e da cultura escolar, na mediação que realiza com um campo de conhecimento.


31 Ao retratar o processo de racionalização da indústria e o papel do SENAI, Barbara Weinstein descreve: “[...] a própria concepção do SENAI refletia o conceito de Mange de uma hierarquia industrial composta rigidamente, em ordem ascendente, por trabalhadores não-especializados (braço anatômico), trabalhadores semi-especializados (braço atento), operários especializados (braço pensante), e encarregados da supervisão (braço pensante e dirigente)”. (WEINSTEIN, Barbara. (Re)Formação da classe trabalhadora no Brasil (1920-1964). São Paulo: Cortez, 2000). Segundo Weinstein, na perspectiva dos industriais, a implementação da racionalização do trabalho no Brasil dependeria: 

(A) do aumento do controle sobre o processo de trabalho por meio da simplificação de tarefas e a desqualificação da força de trabalho, o que iria permitir a substituição dos trabalhadores não especializados e combativos, que recebiam altos salários, por trabalhadores não especializados. 

(B) do aumento do controle sobre o processo de trabalho. No entanto, o paradoxo brasileiro residiria no fato de que a tentativa de racionalização e controle da força de trabalho teve como consequência, a longo prazo, o aumento da autoridade do trabalho sobre o capital na fábrica. 

(C) do aumento do controle sobre o processo de trabalho por meio da simplificação de tarefas e a desqualificação da força de trabalho pela introdução do taylorismo, barrando o processo de substituição dos trabalhadores não especializados, que recebiam altos salários, por trabalhadores não especializados. 

(D) de uma perspectiva de colaboração entre capital e trabalho cujos aspectos principais seriam: um novo modelo de educação profissional adequado à modernização da indústria, controle sobre os operários para além da fábrica e da preparação de um modelo de gestão democrática que superasse os aspectos negativos do taylorismo. 


32 Ao analisar o regime de colonato que se estabeleceu com a institucionalização do trabalho livre no Brasil (cuja maior referência foi a produção cafeeira paulista), José de Souza Martins aponta para a constituição de uma ideologia do trabalho no país, cujo legado para as relações de trabalho foi o caráter colaborativo de classes. Sobre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da ideologia de colaboração de classes, assinale a alternativa correta. 

(A) O estabelecimento de relações entre fazendeiros e colonos que atendiam ao objetivo de reproduzir o regime de escravidão por meio do uso do trabalho cativo do imigrante europeu. 

(B) As relações estabelecidas entre colonos e fazendeiros expressaram uma complexa combinação necessária e contraditória de formas capitalistas e não-capitalistas de produção. 

(C) A política seletiva de imigração privilegiou os europeus oriundos de áreas mais desenvolvidas, onde a vida econômica estava baseada em relações capitalistas de produção. 

(D) A reprodução da força de trabalho sob o regime de colonato poderia ser plena e exclusivamente mediada pela produção e comércio de mercadorias. 


33 “A desorientação que se expressa na sensação de que não se pode obter conhecimento sistemático sobre a organização social, devo argumentar, resulta, em primeiro lugar, da sensação de que muitos de nós temos sido apanhados num universo de eventos que não compreendemos plenamente, e que parecem em grande parte estar fora de nosso controle. Para analisar como isto veio a ocorrer, não basta meramente inventar novos termos, como pós-modernidade e o resto. Ao invés disso, temos que olhar novamente para a natureza da própria modernidade a qual, por certas razões bem específicas, tem sido insuficientemente abrangida, até agora, pelas ciências sociais. Em vez de estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as consequências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes. Além da modernidade, devo argumentar, podemos perceber os contornos de uma ordem nova e diferente, que é “pós-moderna”; mas isto é bem diferente do que é atualmente chamado por muitos de “pós-modernidade.” (GIDDENS, Antony. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991). No fragmento exposto, Giddens remonta à ideia de que não basta ao estudioso inventar novos termos. Para o autor, a noção de modernidade é constituída: 

(A) Pela ideia de que não é possível nenhum conhecimento sistemático das ações ou inclinações humanas ou do desenvolvimento social.

(B) Pela separação entre tempo e espaço, pelo desenvolvimento de mecanismos de desencaixe e pela produção de conhecimento sistemático sobre a vida social. 

(C) Por um deslocamento das tentativas de fundamentar a epistemologia, pela perda de fé no progresso planejado humanamente e pelo desaparecimento da grande narrativa. 

(D) Pela produção de ambiente de risco dominado pelas vicissitudes do mundo físico, pela preponderância da violência humana e crescente contribuição da religião. 


34 “A aceleração econômico-industrial na Era Vargas não influenciou somente no âmbito sócio-econômico mas implicou, também, em transformações político-educacionais que se expressaram na regulamentação da educação formal e não formal. Na educação não formal com as políticas de recreação, já a educação escolar contou com as Reformas Francisco de Campos (1931-1936) e Gustavo Capanema (1942-1946), conhecida também como “Leis Orgânicas de Ensino”. Por meio de decretos-lei, o governo brasileiro expandiu o ensino industrial, instituiu o SENAI, e organizou o ensino secundário em dois ciclos: o ginasial, com quatro anos, e o colegial com três anos, além de reformar o ensino comercial. Naquele contexto de expansão industrial e reformas educacionais, o engenheiro Roberto Mange ao lado de Euvaldo Lodi e Roberto Simonsen idealizaram o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), introduzindo na maneira de ensinar o proletariado brasileiro novas concepções político-pedagógicas”. (CAMARGO, Filipe Pêgo. Ensino profissional brasileiro: a proposta de Roberto Mange comparada a aspectos do projeto educativo de Antonio Gramsci. X Congresso Nacional de Educação. EDUCERE. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba, 7 a 10 de novembro de 2011). Considerando o texto apresentado e os estudos realizados por Augusto Zanetti e João T. Vargas em Taylorismo e fordismo na indústria paulista: o empresariado e os projetos de organização racional do trabalho (1920-1940) (2007), dentre os princípios introduzidos por Roberto Mange no processo de racionalização do ensino profissional brasileiro, pode-se citar: 

(A) Aplicação da avaliação mental e psicológica dos indivíduos (psicotécnica) e a inserção das séries metódicas de ofício a racionalizar o processo de aprendizagem; aprendizado estreitamente ligado com a realidade industrial e educação moral e cívica para a formação do caráter individual. 

(B) Escola desinteressada, sem função utilitarista, que tinha, nos Conselhos de Fábrica, formas organizativas para aliar o trabalho produtivo com a educação, concebido, assim, como centro formador de uma cultura profissional ocupada não apenas com a futura função dos educandos. 

(C) Escola integral, pública, laica e obrigatória, articulada em rede, para cuidar desde a higiene e saúde da criança até sua preparação para a cidadania; a grande função da Educação deve ser a de preparar o homem novo para o mundo novo que a máquina e a ciência estão exigindo. 

(D) A ideia de uma educação voltada para o desenvolvimento capaz de habilitar a juventude brasileira à tomada de consciência do processo de autonomia nacional e preparando-a para as tarefas materiais do fortalecimento e construção da civilização brasileira. 


35 “Domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania” (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases, 1996, art. 35, parag. 3). “Serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio” (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases, 2008, art. 36, § III). “A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de Educação Física, Arte, Sociologia e Filosofia” (BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases, 2017. Art. 35 - A, parag. IV, §2º). Desde a Constituição Federal de 1988, a sociologia como disciplina da educação básica passou por diferentes alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Estas modificações, quanto ao status legal da sociologia como componente curricular do ensino médio, indicam que: 

(A) A sociologia se apresentou como uma fração das disputas que se colocam sobre a escolarização, e as modificações em seu status legal acompanham as mudanças no cenário político nacional.

(B) Foi considerada fundamental pelos partidos políticos para o processo de redemocratização do país, por isso tentou-se aprimorar a forma como se apresenta na lei desde então. 

(C) As modificações na lei, que inclui a sociologia no ensino médio, não tiveram impacto em sua aplicação nos sistemas escolares, pois é somente uma alteração formal. 

(D) A reforma do ensino médio de 2017 garante que a sociologia permanecerá como disciplina obrigatória do currículo escolar, porém não mais em todos as séries. 


36 “O local e o global determinam-se reciprocamente, umas vezes de modo congruente e consequente, outras de modo desigual e desencontrado. Mesclam-se e tensionam-se singularidades, particularidades e universalidades. [Conforme Anthony Giddens,] ‘A globalização pode assim ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa. Este é um processo dialético por que tais acontecimentos locais podem se deslocar numa direção inversa às relações muito distanciadas que os modelam. A transformação local é, assim, uma parte da globalização’”. (IANNI, Octávio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001). O texto acima foi escrito no final do século XX, mas continua atual ao analisarmos os impactos e as condicionantes do processo de globalização, assunto de interesse da sociologia do desenvolvimento. Com base no fragmento, pode-se inferir que, para Giddens, 

(A) a globalização é um processo vertical e de cima para baixo. Dessa forma, os espaços locais estariam condicionados por dinâmicas e transformações globais. 

(B) as transformações locais possuem relação com as dinâmicas políticas e econômicas globais, todavia é mais afetada por políticas das esferas nacionais de governo. 

(C) a globalização é um processo irreversível e, consequentemente, resultado da correlação das políticas de governos subnacionais e nacionais. 

(D) a globalização é um fenômeno complexo e contraditório, pois influencia e pode ser influenciada por acontecimentos ocorridos em diversas regiões do planeta. 


37 

Texto 1 “[A] questão de se saber se a sociologia deve ou não ser ensinada no curso secundário coloca-se entre os temas de maior responsabilidade, com que precisam defrontar-se os sociólogos no Brasil”. (FERNANDES, F. O ensino de Sociologia na Escola Secundária Brasileira. In: 1º Dossiê de Ciências Sociais. São Paulo: CEUPES-USP/CACS-PUC (mimeo), 1985). 

Texto 2 “O conjunto da reflexão sociológica de Florestan Fernandes sobre a educação como processo social se situa no quadro mais geral de discussão sobre as possibilidades e os obstáculos ao desenvolvimento no Brasil. Suas indagações se dirigiam à educação como um fator de mudança social construtiva, isto é, tendente a realizar determinadas potencialidades inerentes aos requisitos mínimos do tipo de civilização urbano-industrial instaurada no Brasil”. (COSTA, Diogo Valença de Azevedo. Comunicação apresentada ao Grupo de Trabalho Ensino de Sociologia do XV Congresso Brasileiro de Sociologia. Curitiba-PR, 26 a 29 de julho de 2011). 

A partir dos trechos apresentados, é correto afirmar que, segundo Florestan Fernandes, o ensino da Sociologia na escola secundária brasileira pode: 

(A) Oferecer procedimentos e conhecimentos que permitam à escola ser um espaço de mediação entre o privado (representado pela família) e o público (representado pela sociedade). 

(B) Orientar a sociabilidade dentro da própria sala de aula por meio de conhecimentos que serão utilizados fora da escola, forjando a democracia e produzindo cidadãos aptos a dirigirem o processo de desenvolvimento. 

(C) Contribuir para preparar as gerações novas para manipular técnicas racionais de tratamento dos problemas econômicos, políticos, administrativos e sociais e desenvolverem espírito crítico e de vigilância intelectual. 

(D) Garantir perspectiva de objetividade e aprovação nos exames de ingresso na Universidade e ser um dos meios de construção da consciência social democrática, plural e igualitária para a construção do desenvolvimentismo. 


38 Ao problematizar o papel da ciência em termos da sua capacidade de atender às necessidades humanas no mundo atual, Boaventura de Sousa Santos identifica um processo histórico de transição da ciência moderna para uma nova ordem científica emergente. O novo paradigma científico identificado e analisado por Boaventura de Sousa Santos pressupõe: 

(A) a replicação nas ciências sociais dos critérios metodológicos de objetividade que são aplicados nas ciências naturais. 

(B) a abolição da influência exercida pelo conhecimento produzido pelo senso comum sobre o conhecimento acadêmico científico. 

(C) a desvalorização do conhecimento prático obtido nas experiências imediatas em favor do conceito de “lei” e de “causalidade”. 

(D) a superação das fronteiras entre o campo de conhecimento das ciências sociais e o campo de conhecimento das ciências naturais. 


39 “A instituição escolar constitui-se como um dos principais espaços de socialização secundária ao cumprir o papel de reprodução da sociedade da qual faz parte e de seus mecanismos de dominação. A ação pedagógica desenvolvida na instituição escolar cumpre esse papel, por intermédio de processos de dominação cujo objetivo é a imposição de um determinado arbitrário cultural. A produtividade do trabalho pedagógico pode ser medida pela intensidade em que consegue inculcar nos destinatários o arbitrário cultural que se propôs reproduzir e pela capacidade de transferir esse habitus constituído para a maior quantidade de situações e campos diferentes... (BOURDIEU, 1992)”. (SILVA, Luís Gustavo Alexandre da. Cultura e instituição escolar: os processos de dominação e a organização, gestão e práticas docentes. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Educação, 2009). 

Tendo como referência os conceitos teóricos elaborados por Pierre Bourdieu, a instituição escolar: 

(A) Por meio da inculcação, promove condições para que alunos oriundos das classes subalternas superem sua posição de classe de origem ao adotarem os símbolos culturais utilizados pelas elites para manterem sua posição de superioridade. 

(B) É o lócus de uma violência cultural contra as camadas populares, pois corporifica mecanismos através dos quais transforma as diferenças iniciais – resultado da transmissão familiar e herança cultural – em desigualdades. 

(C) Faz parte da superestrutura de controle usada pelas classes dominantes para impor suas concepções de mundo aos trabalhadores, promovendo uma falsa consciência que as impede de perceber os interesses de sua classe. 

(D) Define as qualificações específicas dos indivíduos a serem examinadas para obtenção do consentimento dos demais membros da sociedade como uma das maneiras pelas quais os homens livres possam aumentar o seu bem-estar. 


40 Analise a passagem abaixo, em consonância com as leituras sobre Bourdieu, indicado nas referências bibliográficas do edital deste certame: “ [...] ao proceder como se as desigualdades em matéria de cultura não pudessem se referir senão a desigualdades de natureza, ou seja, desigualdades de Dom, e, ao omitir de fornecer a todos o que alguns recebem da família, o sistema escolar perpetua e sanciona desigualdades iniciais”. (BOURDIEU, P. Obras culturais e disposição culta. In: BOURDIEU, P.; DARBEL, A. O amor pela arte – os museus de arte na Europa e seu público. São Paulo: Edusp/Zouk, 2003). Para Pierre Bourdieu, o sucesso e o fracasso escolar estão relacionados ao fato de que: 

(A) as classes trabalhadoras buscam maior quantidade de recursos para garantir o êxito escolar de seus filhos, para que possam se incorporar ao mercado de trabalho com melhores salários. 

(B) cada grupo social tende a investir mais ou menos esforços, ou seja, tempo, dedicação e recursos materiais, na trajetória escolar de seus filhos, de acordo com suas chances maiores ou menores de êxito. 

(C) a análise de Bourdieu considera que a dinâmica entre classe social e educação são suficientes para explicar o êxito e o fracasso na escola. 

(D) para o autor, a organização do conteúdo escolar é feita de forma a garantir a democratização do aprendizado, mas o investimento na escolarização dos filhos se relaciona somente com o retorno econômico que títulos acadêmicos podem oferecer.

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