Questões de Concurso - DPE PR PUC-PR 2012

Olás, 

essa é a nossa 13ª prova de concurso. Vamos verificar o que podemos aproveitar com relação aos temas escolhidos pela banca desse certame da Defensoria Pública do Estado do Paraná. Quais dos temas abordados pela banca você já teve a oportunidade de estudar? Quais questões responderia?

1. Quando o pesquisador tem a intenção de elaborar pesquisa empírica, o item metodologia da pesquisa de campo representa parte indispensável na construção do projeto de pesquisa. Antes de fazer a pesquisa de campo, o pesquisador precisa definir o universo e a amostra da pesquisa. Imagine a possibilidade de você fazer uma pesquisa numa instituição escolar que possui 20.000 alunos matriculados. Dada a impossibilidade, ou mesmo redundância, em abordar todos os alunos da escola, o pesquisador pode definir uma amostra confiável para a realização da pesquisa. A respeito do enunciado em questão, é CORRETO afirmar: 

A) A escolha de 100 ou 1.000 alunos é indiferente para garantir a generalização científica do resultado da pesquisa. 

B) Não há como estabelecer uma relação cientificamente confiável entre universo e amostra da pesquisa no campo das ciências sociais. 

C) A amostra probabilística, quando obedece a critérios estatísticos e a sorteio aleatório, permite ao pesquisador obter dados confiáveis e generalizar o resultado da pesquisa. 

D) Em termos estatísticos, a amostra probabilista é idêntica à amostra não probabilística. 

E) Do ponto de vista da moderna teoria do conhecimento científico, a realização de pesquisa bibliográfica, sem a realização da pesquisa de campo, não possui valor científico. 


2. O advento do Iluminismo, do racionalismo e do utilitarismo burguês imprimiu na França e em outros países a supressão dos valores culturais do século XVI, fundados “na concepção de um tempo cíclico, repetindo entre os homens o caminhar das estações do ano”. As novas transformações estruturais impuseram novas maneiras de pensar e, em consequência, o “desaparecimento de toda uma cultura tradicional” e o dilaceramento da “ideia de sociabilidade coletiva”. O Estado moderno, a escola obrigatória e a maior mobilidade social “induziram o “desaparecimento de toda uma cultura tradicional”, incluindo a diminuição da fé religiosa e maior ceticismo em “relação às numerosas crenças populares”. Nesse sentido, o moderno Estado francês pode ser definido como um espaço integrado com poder de impor “unidade mental e cultural dos habitantes que conscientemente aderem às leis do Estado”. (ORTIZ, Renato. Cultura e modernidade: a França no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1991, p.-36-38.) 

Leia as afirmações a seguir: 

I. O Estado atua como fator espontâneo de disciplinarização das condutas. 

II. O recuo das crenças mágicas é correlato à mudança de mentalidades.

III. A constituição do Estado Francês firmou-se à base do pluralismo dos costumes locais. 

IV. A ideia de sociabilidade coletiva representa um dos trunfos do modo de sociabilidade burguesa. 

V. A ideia de nivelamento cultural é avessa à intervenção do poder do Estado. 

Estão corretas APENAS as afirmativas: 

A) I e Il. 

B) I e III. 

C) II e III. 

D) III e IV. 

E) III e V. 


3. “O surgimento do interesse científico e as etapas de consolidação da Sociologia no Brasil implicaram uma combinação de causas provenientes de contatos sociais, conflitos e acomodações de ‘culturas e povos diversos’. Para efeito de explicação didática, o desenvolvimento das etapas da sociologia no Brasil pode ser resumido em três períodos: a) Período dos pensadores sociais (sociologia de cátedra); b) Período da Sociologia científica/ênfase à pesquisa macrossociológica I; c) Período da Sociologia científica II/momento de crise e diversificação da sociologia. Em linhas gerais, as etapas em questão correspondem respectivamente ao final do XIX até 1925; 1935-70; 1980/90.” (LIEDKE FILHO, Enno D. A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios. sociologias, Porto Alegre, ano 7, nº 14, jul/dez 2005, pp. 376-437 – ([DOSSIÊ A Sociologia no Brasil: história, teorias e desafios]). 

De acordo com a classificação elaborada e datada pelo autor, a produção sociológica do último período foi caracterizada, sobretudo, pelo: 

A) Ênfase teórico-metodológica nas discussões em torno da integração dos países latinoamericanos. 

B) Predomínio do interesse acadêmico em pesquisas microssociológicas voltadas às questões de “identidades sociais e representações sociais”. 

C) Ênfase político-metodológica a respeito da teoria da modernização da sociedade brasileira. 

D) Ênfase teórico-metodológica nas discussões acerca da capacidade de a burguesia nacional realizar um projeto de desenvolvimento nacional e democrático-popular no país. 

E) Predomínio do interesse acadêmico em reflexões e pesquisas, capazes de explicar a dominação imperialista no continente sul-americano. 


4. Segundo um importante sociológico contemporâneo (David Garland), até 1970/80 discurso criminal estatal já admitiu, na Europa e outros países, a possibilidade de o Estado vencer a guerra contra o crime. Contudo, entre os anos de 1980/90 verifica-se a mudança do discurso político do Estado alertando a sociedade para os limites do poder de prevenção e controle das ações criminais por parte do Estado. De agora em diante, o governo central poderá apenas compartilhar, com a sociedade civil, as diversasações contra o crime. Desde então, continua o autor, a sociedade vem testemunhando o fim do discurso político que atribui ao Estado o monopólio da prevenção e controle do crime. De acordo com a construção lógica do enunciado em questão, é INCORRETO afirmar: 

A) Estão abertas as portas para a privatização dos mecanismos de prevenção e controle do crime. 

B) A máquina penalizadora estatal tem sido levada a adaptar-se a nova realidade econômica contemporânea. 

C) Dispositivos de prevenção e controle do crime vêm sendo subordinados à lógica de mercado. 

D) A falência do modelo penal encarcerador pode ser imputada à ausência de investimentos do Estado em mais prisões. 

E) Apesar da crise do sistema de justiça criminal contemporâneo, os símbolos de poder e força do Estado ainda são obtidos por meio de políticas ultrapenalizadoras.


5. “A Modernidade nasceu preocupada com a identidade” e, em especial, com a subjetividade. Forjou uma nova concepção social, oposta à visão de mundo feudal (cosmovisão teocrática). O humanismo renascentista ressaltou a ideia de individualidade e subjetividade e imprimiu a bandeira racional de um mundo produzido pela ação humana. A derrocada das comunas medievais deu lugar ao surgimento do Estado moderno e à permanente tensão entre subjetividade individual e coletiva. Isso ocorreu, em grande medida, porque os princípios constitutivos do mercado e da propriedade privada favoreceram o “triunfo da subjetividade individual”. Do ponto de vista político-jurídico, o paradigma da modernidade liberal procurou equacionar esta contradição estabelecendo, por um lado, um tipo concreto de subjetividade e, por outro, uma concepção abstrata de subjetividade, sem tempo e espaço definidos. Desde então, a matriz desse projeto sociocultural contraditório tem sido acompanhada pelo advento de um supersujeito (Estado) preocupado em estabelecer o “equilíbrio entre regulação social e emancipação social”.” (SANTOS, Boaventura de Sousa. Modernidade, identidade e a cultura de fronteira. Tempo Social. São Paulo, v.5 (1-2), pp.31-52, nov. 1994.) 

Dado esse contexto, é CORRETO afirmar: 

A) De acordo com o autor, os princípios atinentes ao mercado e à propriedade privada sufocaram o “triunfo da subjetividade individual”. 

B) No período em questão, a antinomia estrutural do mercado prejudicou o avanço das liberdades individuais. 

C) No plano do reconhecimento das subjetividades coletivas, o Estado regulador mostrou grande sensibilidade à intervenção transformadora dos contextos, da negociação e do diálogo. 

D) O Estado Nacional constitui a única instituição capaz de conferir legitimidade e proteção aos direitos das minorias.

E) O advento da modernidade foi marcado pelo predomínio da subjetividade individual abstrata em relação à subjetividade contextual.


6. “A tendência de a maioria da população aceitar e aderir ao impulso da sociedade industrial não a torna “menos irracional”. Isso se manifesta quando o interesse “imediato” supera o “interesse real” e a pessoa já não sente a “necessidade de modificar seu estilo de vida, de negar o positivo, de recusar”. O que caracteriza a sociedade industrial avançada é essencialmente o fato de esta criar certas necessidades, expandir a entrega de mercadorias e usar a conquista científica sobre a natureza “para conquistar o homem cientificamente”.” (MARCUSE, Herbert. A ideologia da sociedade industrial: o homem unidimensional. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p. 17). A passagem acima, acrescida da leitura e compreensão do texto do autor, permite afirmar: 

A) Na sociedade industrial, o universo tecnológico é incompatível com o universo político. 

B) O ambiente tecnológico aprofunda a distância entre “cultura, política e economia”. 

C) No plano teórico, é impossível fazer com que o aparato produtivo da sociedade seja voltado apenas para a satisfação “de necessidades vitais”. 

D) O totalitarismo é incompatível com um sistema econômico “de produção e distribuição”, que funciona à base do pluralismo de ideias, partidos políticos, liberdade de imprensa. 

E) O progresso técnico testemunha a “falta de liberdade confortável”. 


7. Cientistas sociais como Cristina Costa afirmam que, desde meados dos anos de 1980, o avanço do neoliberalismo, ao impor políticas de diminuição dos recursos públicos a setores considerados essenciais como a educação e a segurança, provocou a multiplicação de empresas de segurança privada e, até mesmo, de milícias privadas. Segundo a autora, em nome da garantia da paz interna, países como o Brasil vêm utilizando e reproduzindo inúmeros atos de violência contra setores da população que vive nas periferias urbanas. Institutos e organizações responsáveis pela defesa e proteção dos direitos humanos afirmam que a violência policial do Estado tende a justificar tal postura em nome da discutível defesa do cidadão comum. Ao mesmo tempo, as autoridades vinculadas à segurança pública condicionam a multiplicação dos efetivos militares como forma de o Estado combater o crime organizado e o narcotráfico. Enquanto isso, o cotidiano das ações policiais coleciona o aumento do contingente de pessoas suspeitas devido a suas condições materiais de existência ou do histórico de preconceitos raciais, étnicos, sexuais, religiosos etc., que associa crime, pobreza e multiplicação de desvios. De acordo com o enunciado acima:

A) Nos últimos anos, houve aumento da eficiência e observância legal por parte das instituições responsáveis pelo controle e repressão ao crime. 

B) Do ponto de vista da ideologia criminalizadora, o aumento da repressão do Estado penal produz efeitos sociais positivos no enfrentamento do crime. 

C) Há situações em que a imposição de políticas externas, exigindo dos Estados pobres a redução do déficit público, ajuda a diminuir a criminalidade. 

D) No Brasil, a abordagem policial do crime vem superando o estigma da condição de classe social. 

E) A privatização do uso da violência e a arbitrariedade policial podem servir de freio à tendência de multiplicação dos atos de violência. 


8. Segundo Edmundo Campos, algumas das características das organizações burocráticas modernas podem ser descritas do seguinte modo: pessoas organizadas a partir da hierarquia de cargos bem definidos; cada cargo possui uma esfera de competência legalmente determinada; a seleção dos candidatos ocorre através de qualificação técnica (exames, diplomas, concursos públicos); a remuneração tem por base um salário; o cargo é tido como a única ou a principal ocupação do funcionário. A respeito do modelo organizacional descrito acima, é INCORRETO afirmar: 

A) O modelo de organização burocrática teve grande êxito econômico, social e político em todos os tempos. 

B) O modelo de organização acima é incompatível com a existência das organizações religiosas. 

C) O modelo de organização em questão tem sido mais eficiente apenas no setor empresarial. 

D) A origem da corrupção endêmica do Estado brasileiro provém da adoção do tipo de organização burocrática em questão. 

E) O modelo de organização acima foi criado durante a revolução industrial capitalista e ainda adquire importância. 


9. O direito moderno pode ser definido do seguinte modo: um conjunto de normas abstratas, feitas e estatuídas com determinadas intenções. Pressupõe o Judiciário para a aplicação das regras no caso particular e uma administração racional com o fim de cuidar dos interesses previstos pela ordem. A autoridade legal manda e obedece ao mesmo tempo em virtude do caráter impessoal da norma em disposição. A respeito do enunciado em questão é INCORRETO afirmar: 

A) Os processos de racionalização e de burocratização do direito estão imunes aos interesses do capital. 

B) A demora do tempo de duração dos processos judiciais é decorrente do processo de racionalização e de burocratização do direito. 

C) Do ponto de vista da dominação legal, a impessoalidade e a burocratização da norma constituem a forma mais objetiva de garantir a realização da justiça. 

D) As definições de direito e administração da justiça acima constituem uma das características decisivas do Estado racional moderno. 

E) A produção e a aplicação do direito racional moderno eliminam a ingerência do poder político. 


10. Leia as afirmações a seguir: 

I. O nascimento do direito moderno é produto da racionalização da sociedade ocidental e do Estado 

II. O direito moderno é reflexo do modo de produção capitalista. 

III. A evolução do direito é resultado da divisão social do trabalho. 

Assinale a alternativa que corresponde à sequência CORRETA dos autores. 

A) Weber, Durkheim e Marx. 

B) Marx, Durkheim e Weber. 

C) Durkheim, Marx e Weber. 

D) Weber, Marx e Durkheim. 

E) Durkheim, Weber e Marx. 


11. Sociologicamente, o Estado contemporâneo não possui o monopólico da produção e de aplicação do direito. O direito estatal dominante, afirma Boaventura Sousa Santos, convive com outros modelos de juridicidade. O autor mostra, por exemplo, que o declínio da litigiosidade civil não significa a diminuição dos conflitos sociais, mas o desvio da solução de tais conflitos a outros mecanismos informais de poder mais baratos e rápidos. Visando democratizar a aplicação do direito na sociedade as conclusões do autor ajudam a: 

A) Enfatizar que, ao lado da justiça convencional, surgem instituições leves e desprofissionalizadas com o objetivo de maximizar o acesso à justiça. 

B) Legitimar e reforçar o tipo de organização burocrática e hierarquizada, que caracteriza o atual modelo de administração da justiça. 

C) Apontar para a necessidade de simplificar os atos processuais e incentivar à conciliação das partes, mesmo que tais procedimentos prejudiquem algumas das partes em litígio. 

D) Reforçar a necessidade de o judiciário evitar (dentro dos processos) o maior envolvimento e participação dos cidadãos como forma de acelerar o curso das sentenças judiciais. 

E) Abolir o atual modelo de organização do Judiciário por considerá-lo lento, injusto e moroso na prestação da justiça. 


12. As mudanças tecnológicas e organizacionais do capitalismo contemporâneo pós/1980 apontam para a diminuição da classe operária tradicional e a expansão do trabalho assalariado no setor de serviços. A diferenciação do trabalho é resultado da incorporação do trabalho feminino ao mundo operário, expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado e terceirizado. A reestruturação produtiva exige, ao mesmo tempo, que alguns ramos produtivos requeiram trabalhadores superqualificacados e outros não. (ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 6a ed. São Paulo: Cortez, 1999.) A esse respeito é CORRETO afirmar que: 

A) Os países desenvolvidos e em desenvolvimento testemunham o aumento quantitativo do operariado industrial. 

B) Os trabalhadores preferem o trabalho informal porque recebem, em média, mais que os trabalhadores com carteira assinada. 

C) O processo de reestruturação produtiva requer intelectualização de parte da força de trabalho e convive com o fenômeno do desemprego estrutural. 

D) A substituição do trabalho humano pelo trabalho mecânico produz consequências sociais e políticas ainda pouco conhecidas. 

E) O período em questão mostra que os processos de qualificação do trabalho formal e informal ocorrem simultaneamente. 


13. Numa sociedade cujos valores socioeconômicos e políticos são pautados pela ideologia liberal clássica, seria CORRETO esperar uma identificação jurídica correspondente a tais valores, admitindo-se a seguinte configuração do direito: 

A) Proteção e defesa jurídica intransigente dos valores e interesses individuais e, simultaneamente, forte apoio à intervenção estatal na criação de políticas públicas (proteção social). 

B) Proteção e defesa jurídica intransigente de uma política estatal na afirmação dos direitos coletivos. 

C) Proteção e defesa jurídica intransigente dos interesses restritos da cúpula política que comanda o poder do Estado. 

D) Proteção e defesa jurídica intransigente dos valores, interesses e livre circulação dos agentes econômicos privados. 

E) Defesa jurídica intransigente contra a pretensão do governo e ou de grupos econômico-financeiros de flexibilizar direitos trabalhistas. 


14. Leia as afirmações abaixo a respeito dos três tipos puros de dominação legítima descritos por Max Weber. 

I. O tipo de dominação tradicional supõe a existência de laços de fidelidade pessoal. 

II. O tipo de dominação carismática se fundamenta na crença em estatutos legais e na impessoalidade da norma. 

III. O tipo de dominação racional legal se fundamenta na autoridade das tradições.

A) O surgimento do capitalismo moderno é o produto autêntico de uma mentalidade protestante. 

B) O surgimento do moderno capitalismo do ocidente surgiu de modo acidental. 

C) A suposta correlação entre aumento de salário e maior produtividade do trabalho nunca pode ser comprovada. 

D) A maneira protestante de encarar o trabalho contribuiu para o maior desenvolvimento do capitalismo em países como a Inglaterra e os EUA. 

E) O modo protestante de encarar o trabalho debilitou a expansão da produção econômica nos países de maioria protestante. 


16. Entre os inúmeros efeitos econômico-sociais e políticos da revolução dupla revolução pós-século XIX, é possível destacar: 

I. A consolidação do capitalismo industrial e o empobrecimento econômico das nações. 

II. O aumento da produção, da circulação de mercadorias e do contato entre os países. 

III. A expansão da população urbana e o aumento da produtividade no campo. 

IV. O surgimento de novas classes sociais e a fragmentação do conceito de Estado-nação. 

V. O advento da sociedade de consumo e a redução da cultura do medo urbano. 

Estão corretos APENAS os itens: 

A) I e IV. 

B) II e V.

C) II e III. 

D) I e III. 

E) IV e V. 


17. Uma das concepções mais populares sobre ciência no Brasil é a apresentada por Antônio Carlos Gil da seguinte forma: “A ciência pode ser caracterizada como uma forma de conhecimento objetivo, racional, sistemático, geral, verificável e falível”. (GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999, p. 20.) Partindo dessa definição geral, pode-se caracterizar a especificidade da produção sociológica como: 

A) Em pleno processo de desenvolvimento metodológico, desenvolvendo técnicas de pesquisa cada vez mais precisas em busca da ampliação de seu grau de quantificação e previsibilidade. 

B) Um processo científico variável em relação à orientação teórica adotada e não por conta de seu encaminhamento metodológico, exclusivamente quantitativo. 

C) Menos probabilística e precisa do que as ciências naturais por conta das variáveis não quantificáveis e de difícil previsibilidade envolvidas, dotada de uma natureza de pesquisa que praticamente inviabiliza o método experimental, o que não exclui, porém, a cientificidade. 

D) Um processo científico variável em relação à orientação teórica adotada e não por conta de seu encaminhamento metodológico, exclusivamente qualitativo. 

E) Baseada nas motivações ideológicas e nos valores do pesquisador, uma vez que a sociologia tem por finalidade última politizar a ciência. 


18. Quanto ao problema de construção de variáveis na Sociologia, pode-se afirmar CORRETAMENTE: 

A) Refere-se ao processo de conversão do abstrato ou intuitivo ao mensurável, isto é, a tradução de conceitos em índices, a partir da mobilização de indicadores na composição de uma síntese de dados. 

B) Trata-se de atualização da literatura sociológica clássica, que, em seu processo de formação, pontuou as variáveis fundamentais das sociedades modernas, cujas características sofrem constante aprofundamento. 

C) Ocorre nas abordagens microssociológicas, mais propensas ao controle dos fatores sociais atuantes nos fenômenos sociais em questão. 

D) É um efeito da pesquisa social percebido apenas nas abordagens microssociológicas, por conta da diminuição do escopo quantitativo para a abordagem de caráter qualitativo e etnográfico. 

E) Facilmente solucionável, o problema da construção de variáveis deve ser resolvido com a construção de categorias em tabelas e gráficos com base nos procedimentos estatísticos. 


19. Norbert Elias é um dos mais conhecidos sociólogos contemporâneos que desenvolveu uma marcante contribuição à sociologia da cultura ao refletir sobre a sociogênese dos conceitos de “cultura” e “civilização”. Sobre sua abordagem é CORRETO afirmar: 

A) De orientação evidentemente marxista, Elias mapeia a noção de cultura como uma história da ideologia enquanto confere à civilização uma análise tecnológica dos processos de exploração do trabalho. 

B) A crítica de Elias recai no uso deliberado e extenso das análises antropológicas acerca da cultura, demasiado amplas, mantendo sua abordagem histórico-sociológica na investigação da concepção francesa de civilização, com ênfase nas inovações tecnológicas. 

C) Contrariando análises anteriores, Elias identifica a origem da noção de cultura nos países asiáticos e demonstra a influência dessa noção para a tradição ocidental, em um amplo processo de difusão semântica que chega a sobrepujar a noção de civilização dominante na Europa. 

D) Atento ao significado dos conceitos ao longo do tempo e em diferentes contextos nacionais, Elias resgata a noção francesa de civilização como referente aos progressos das instituições e costumes ocidentais, universalizáveis a toda humanidade, e demonstra como a visão alemã de cultura opunha-se à civilização, vista como leviandade e superficialidade, em detrimento dos valores de profundidade e autenticidade nacionais. 

E) Resgatando influência do estruturalismo de Lévi-Strauss, Elias procura demonstrar a dimensão inconsciente que perpassa e organiza tanto as práticas culturais e simbólicas, associadas à noção de cultura, quanto os processos inconscientes de formação das nacionalidades referentes à noção de civilização. 


20. Georg Simmel, em seu texto clássico A metrópole e a vida mental, menciona profundas alterações emocionais e sensitivas dos seres humanos causadas pela cidade grande. Sobre esse tema é CORRETO afirmar: 

A) Simmel destaca que desde o início do processo de urbanização, os habitantes de grandes cidades desenvolvem ampla afetividade pelos moradores vizinhos bem como pelos seus contextos locais de habitação. 

B) De influência marxista, Simmel desenvolve a base da sociologia urbana ao tratar a cidade como a forma predominante e efetiva de reconversão da relação exploratória plenamente capitalista. 

C) As novas formas de associação e visão de mundo a partir da construção de novos laços urbanos é algo diagnosticado por Simmel logo em seu texto clássico, anunciando os desdobramentos de reivindicações de direitos civis e movimentos sociais que proliferariam ao longo do século XX. 

D) De orientação weberiana, Simmel identifica um processo de suavização da exploração do trabalho no contexto urbano, por conta das novas possibilidades metropolitanas da modernidade. 

E) O ponto central é a intensificação dos estímulos urbanos e o anonimato, que geram, por um lado uma ampliação da racionalidade e calculabilidade da vida e, por outro a atitude blasé, como forma de proteção emocional. 


21. Em um conhecido livro Organizações Modernas, o sociólogo Amitai Etzioni destaca a relevância dos estudos da sociologia organizacional no mundo moderno, haja vista que a “sociedade atual é uma sociedade de organizações” (Etzioni, 1967:5), pois nascemos, fomos educados, trabalhamos, e desenvolvemos grande parte de nossas demais atividades em organizações. No entanto, ao longo do desenvolvimento da sociologia das organizações, as percepções teóricas acerca das organizações sofreram modificações condizentes com as escolas teóricas da área. Entre elas, destacam-se a Teoria Clássica ou Administração Científica, a Teoria das Relações Humanas e a Teoria Estruturalista. Considere as afirmativas acerca dessas teorias: 

I. A Teoria Clássica abordava as organizações a partir do critério da motivação econômica para o trabalho, dando ênfase ao processo de divisão do trabalho clara e formal. 

II. A Teoria Clássica incorporava, desde seu surgimento, influências weberianas voltadas a compreender o sentido da ação social no trabalho, atribuída pelos indivíduos no processo produtivo 

III. A Teoria das Relações Humanas dá atenção aos processos psicológicos envolvidos nas organizações, demonstrando como as recompensas extraeconômicas têm sempre justificativa associada à satisfação pessoal e individual. 

IV. A Teoria das Relações Humanas denunciou a necessidade de se levar em consideração os “fatores sociais”, isto é, as inúmeras necessidades extraeconômicas dos trabalhadores dentro da organização para a melhor compreensão e mesmo para o pleno desenvolvimento organizacional. 

V. A Teoria Estruturalista, de grande influência marxista e weberiana, parte do conflito inevitável entre o trabalhador e a organização e dá grande ênfase à dimensão do poder nas organizações. 

VI. A Teoria Estruturalista enfatiza o organograma empresarial, as relações de mando e submissão propondo novas formas de organização das funções, mais flexíveis e democráticas. 

É correto o que se afirma APENAS em: 

A) I, III e V. 

B) II, IV e VI. 

C) I, IV e V.

D) II, III e VI. 

E) I, III e IV. 


22. No livro A corrosão do caráter, Richard Sennet trata da noção de “capitalismo flexível”. Para ele: “A expressão ‘capitalismo flexível’ descreve hoje um sistema que é mais que uma variação sobre um velho tema. Enfatiza-se a flexibilidade. Atacam-se as formas rígidas de burocracia e também os males da rotina cega. Pede-se aos trabalhadores que sejam ágeis, estejam abertos a mudanças a curto prazo, assumam riscos continuamente, dependam cada vez menos de leis e procedimentos formais.” (SENNET, Richard. A corrosão do caráter. Rio de Janeiro, Ed: Record, 2004, p.9.) Identifique entre as alternativas abaixo aquela que expressa CORRETAMENTE a visão de Richard Sennet sobre o capitalismo flexível. 

A) Tendência central na sociedade da informação, a flexibilidade é a exigência fundamental dos novos empreendedores, que não apenas têm maior autonomia pessoal e liberdade como recebem maior remuneração por sua qualificação. 

B) Trata-se de uma nova forma de dominação, baseada em controles mais ilegíveis, mas igualmente coercitiva e exploratória, cujos efeitos implicam custos pessoais e a derrocada da possibilidade de planejamento, estabilidade e compromissos de longo prazo. 

C) O capitalismo flexível significa uma diminuição do caráter exploratório do trabalho por conta dos detentores dos meios de produção, que, cada vez mais informados, estão cientes dos riscos de crise cíclica e flexibilizam seus lucros de maneira condizente com o cenário econômico internacional. 

D) Para Sennet, a flexibilidade do capitalismo atual é sinônimo da substituição da força de trabalho pela informação, que suplantou a mão de obra, pois, com as novas tecnologias, o operariado tradicional tornou-se dispensável e descartável. 

E) A noção de flexibilidade para Sennet é uma noção puramente ideológica, utilizada pelos administradores para maquiar a mesma configuração de exploração do capitalismo moderno. 


23. Raymond Williams, um dos fundadores do que hoje se compreende como o paradigma dos Estudos Culturais, também trouxe contribuição inestimável à sociologia da cultura. Uma das suas mais marcantes afirmações foi a de considerar a cultura “experiência ordinária”. (CEVASCO, Maria Elisa. Para ler Raymond Williams. São Paulo: Paz e Terra, 2001.) Identifique entre as alternativas abaixo aquela que apresenta a síntese adequada da expressão de Williams:

A) O objetivo do autor era apresentar a cultura como um domínio de forma alguma separado da esfera da vida cotidiana e da experiência corriqueira, uma forma de atividade humana envolvida na produção de significados e valores e que estrutura instituições, relações e também as artes. 

B) Para Williams, como para os demais sociólogos marxistas, a cultura não pode ser vista como o elemento definidor dos significados, aptidões e relações sociais, pois estes devem sua lógica à explicação estrutural, do mundo do trabalho e das relações de produção capitalistas. 

C) A intenção do autor com essa expressão é chamar a atenção para a perda da experiência cultural moderna com o advento da indústria cultural, restando legitimidade e integridade quanto ao termo “cultura” apenas aos grupos subjugados, populares e folclóricos. 

D) Williams, com essa expressão propõe-se a identificar uma nova forma de mercantilização da cultura, não mais baseada na indústria cultural enquanto sistema, mas sim na comercialização de produtos de baixa qualidade para a classe emergente, exclusivamente. 

E) Ao relacionar a noção de cultura e experiência, Williams volta-se contra toda e qualquer análise de orientação marxista, rompendo definitivamente com a relação entre base e superestrutura, próprias dos argumentos dessa linha sociológica. 


24. Raízes do Brasil é, sem dúvida, um dos livros mais famosos e centrais ao pensamento sociológico sobre o país. Nesse clássico, Sérgio Buarque de Hollanda, baseando-se em Max Weber, trabalha com dois tipos sociais ideais para pensar o Brasil. Assinale, entre as opções abaixo, aquela que corresponde à noção CORRETA: 

A) Os dois tipos-ideais para pensar o Brasil foram as noções de “adaptação”, desenvolvidas adequadamente pelos portugueses nos trópicos, e de “aventura”, legado deixado pelos indígenas do território nacional, cuja bravura e resistência formou outro lado do caráter nacional. 

B) A “racionalidade” dos administradores coloniais portugueses, versados no pleno desenvolvimento urbano, associou-se à “sociabilidade” dos escravos negros, sendo esses tipos ideais, o legado central para pensar o dilema brasileiro desde os tempos coloniais. 

C) Trata-se de duas lógicas de colonização do país: a da “aventura”, de tradição ibérica, que visa ao resultado material imediato, riquezas e prestígio a partir da ousadia e da audácia; e a do “trabalho”, associada à colonização holandesa e protestante, baseada na ética do trabalho árduo e persistente. 

D) A “civilidade” portuguesa, no árduo processo de construção de cidades e aglomerados urbanos em meio à selva e espaços de difícil habitação, mesclou-se à “lógica comunal” indígena, baseada na partilha e reciprocidade, lançando o país em uma apropriação específica da configuração capitalista colonial. 

E) As lógicas condizentes da “cordialidade”, centralizada no caráter afetuoso e hospedeiro do índio do território brasileiro, bem como a “amabilidade” negra tornaram o povo brasileiro submisso aos ditames coloniais e, posteriormente, à elite política do país, configurando a dependência nacional frente ao cenário externo. 


25. É comum à abordagem da Sociologia Jurídica a apresentação de duas tradições na análise da relação entre direito e sociedade, a do consenso ou equilíbrio, apoiada em Durkheim, e a tradição do conflito, de orientação marxista. Alguns autores, como José Eduardo Faria, destacam a importância da visão do direito como um problema de decibilidade normativa de conflitos que superaria essa dicotomia. Considere as afirmativas acerca dessas três abordagens da Sociologia Jurídica: 

I. A teoria do consenso encara a ordem como a dominação bem-sucedida da elite. 

II. A teoria do consenso baseia-se no fato de que o direito, centrado na lei, é fenômeno social imparcial e neutro. 

III. A teoria do conflito vê a ordem como efeito de um acordo sobre os valores sociais e os antagonismos como risco à estabilidade. 

IV. A teoria do conflito compreende a ordem como a dominação bem-sucedida da elite. 

V. A decibilidade normativa de conflitos concebe a necessidade de a justiça operar como uma ciência social, encarregada de vincular fatos e valores em sínteses temporárias das tensões sociais. 

VI. A decibilidade normativa de conflitos permite compreender o direito como ciência formal das normas e, portanto, como fenômeno puramente lógico. 

É correto o que se afirma APENAS em: 

A) II, III e IV. 

B) IV e V. 

C) III e VI. 

D) II, IV e VI. 

E) I, III e IV.

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