Clássicas - Harriet Martineau (1802-1876)

Olás, 

Hoje falaremos sobre Harriet Martineau, uma escritora crítica, perspicaz e muito reconhecida em sua época. Foram muitas obras publicadas por esta autora em meados do século XIX. Citarei algumas:

  • 1832, "Illustrations of political economy" 
  • 1837, "Society in America"
  • 1838, "How to observe morals and manners"
  • 1838, "Retrospect of western travel"
  • 1844, "Life in the sickroom"
  • 1845, "Letters on mesmerism"
  • 1848, "Eastern life"

Apesar disso, na atualidade, não percebemos referências a Harriet Martineau, a não ser em letras miúdas e com desconfiança em notas de rodapé. Isso quando acontecem, o que é uma raridade.
Criei, recentemente, uma disciplina no Departamento de Direito da UFJF-GV chamada "Sociólogas Clássicas e Contemporâneas" com o intuito de chamar a atenção para o fato de que não é reservado espaço na formação universitária para as teóricas das Ciências Sociais, sejam elas clássicas ou contemporâneas.
Lembro o meu caso. Estudei na UFJF, de 1998 a 2001, e no antigo IUPERJ, de 2002 a 2008. Não me recordo de estudar nenhuma das sociólogas clássicas, mas me lembro de um professor de Ciência Política nos instigando com a seguinte indagação: "Ah, as mulheres não publicaram nada! Cite uma mulher entre os clássicos." Eu não tinha resposta para a provocação. Mas não era culpa minha, ao contrário do que eu pensei na época. E o professor sabia que nós acharíamos isso, embora certamente também soubesse que não sabíamos exatamente porque não havia sido nos oferecido ao longo de nossa formação.
Vejamos, essa moça traduziu e simplificou Comte para o inglês. A tal ponto que, reza a lenda, Comte teria adotado a versão resumida que Martineau produziu para o inglês como se fosse a obra de referência.
Mas, vejam bem, nós falamos na Sociologia sendo criada por Comte em 1856 no Curso de Filosofia Positiva, tendo publicado apenas duas obras anteriores. Porém, Martineau, a essa altura, já havia publicado, ao menos, 07 livros, sendo 03 caracteristicamente de Sociologia.
Vamos lá, então. O que torna uma autora uma clássica?
Vejamos:
- Antiga? Uai, Martineau cumpre o requisito!
- Inovadora? Hum, ela falou sobre a sociedade americana, a democracia e a ironia da convivência com a escravidão, no mesmo período em que o celebrado Tocqueville o fez em 1835, com "Da democracia na América", e muito antes de Weber em 1905, com "A ética protestante e o espírito do capitalismo".
- Reconhecida? Sim, amplamente reconhecida na comunidade acadêmica de sua época.
- Consagrada após a morte? Não, apenas parcamente em duas sociedades, uma fundada em 1944, a "The Martineau Society", e em 1966, nos Estados Unidos, a "Harriet Martineau Sociological Society".
Então, é nosso papel mudar esse quadro e rever o status desses clássicos, que andam ocupando o espaço das clássicas e não apenas os que lhes são devidos.
Farei um esforço neste blog para disseminar obras destas autoras, ao mesmo tempo em que tenho trabalhado num livro reunindo a contribuição de algumas escritoras para a fundação da Sociologia e sua institucionalização.
Estou fazendo a minha parte, (re)lendo tais autoras a partir de suas obras e não apenas de parcos comentadores, mas também inserindo-as nas bibliografias tradicionais. Seguem como sugestão de leitura dois livros que comprei recentemente e estou lendo. 






Martineau é de fato uma escritora contagiante, perspicaz e sua escrita traduz muito bem isso. Nada cansativa e muito geniosa.




No meu entendimento, os clássicos deveriam, então, ser estudados como:
- Auguste Comte (1798-1857)
- Harriet Martineau (1802-1876)
- Flora Tristan (1803-1844)
- Alexis de Tocqueville (1805-1859)
- Karl Marx (1818-1883)
- Émile Durkheim (1858-1917)
- Max Weber (1864-1920)
- Georg Simmel (1858-1918)
- Marianne Weber (1870-1954)
- Rosa Luxemburgo (1871-1919)

Além dessas, podemos citar:
- Olympe de Gouges, "Declaração de direitos da mulher e da cidadã" (1791)
- Mary Woolstonecraft. "Reivindicação dos direitos das mulheres" (1792)
- Vera Ivanovna (1848)
- Harriet Taylor. "A sujeição das mulheres". (junto com Stuar Mill)
- Nísia Floresta
- Ruth Benedict (1887-1948)
- Margareth Mead (1901-1978)

São esses apenas alguns exemplos. Em outras postagens trarei cada uma dessas autoras em separado para falar um pouco sobre vida e obra.

Quase um mês após a publicação desta postagem, recebi outro livro de Harriet Martineau, do qual só possuía fotocópia e um breve resumo com recortes de algumas páginas. Quem gosta de ler Alexis de Tocqueville certamente irá apreciar essa leitura: ida aos EUA, no mesmo período e preocupada também com a democracia, mas não só ela, também a sociedade escravocrata. Bom debate sobre como cada um percebeu esse cenário não acham?








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